Bolo de laranja da Julia Child (Gâteau à l’orange). Simples, e exatamente por isso, incrível.

Um bolo de laranja simples, mas incrível, pra mim (talvez justamente por ser simples). Ele é bem macio (um “Spongecake”) e suave. Com um chá, ele me emociona. Essa receita mostra que preparos clássicos franceses podem ser mais simples do que pensamos. Aliás, mostrar isso foi a missão de Julia Child no mundo – a mulher que mudou o modo como a América comia na década de 60, tornando a arte emocionante da cozinha francesa possível para qualquer pessoa comum executar, em cozinhas comuns. Te amo Julia, pra sempre. Obrigado.

Abaixo receita escrita, mas clicando no link acima você vê o video da receita no Youtube, e clicando aqui você vê o video no IGTV do meu Instagram @rodrigo.vilasboas

Ingredientes:

Bolo:

  • 2/3 de xícara de chá de açúcar (135g).
  • Mais 1 colher rasa de sopa de açúcar (15g)
  • 4 gemas
  • 4 claras
  • Raspas da casca de 1 laranja
  • 1/3 de xícara de chá de suco de laranja (75 ml)
  • 2 pitadas de sal
  • 3/4 de xícara de chá de farinha de trigo (120g)

Cobertura:

  • 1 lata de leite condensado
  • 1 colher de sopa de manteiga
  • 5 ou 6 colheres de sopa de suco de laranja
  • 2 ou 3 colheres de sopa de licor de laranja (opcional)
  • Raspas de laranja (opcional)
  • Gotas de limão (opcional)
  • Amêndoas em lâminas para finalizar (opcional)

Modo de preparo:

Bata as gemas com o açúcar, na batedeira ou com um fouet, até a atingir ponto de fita (que é quando a massa fica sedosa e clara e você levanta o batedor e a massa cai desenhando formas). Junte o suco e as raspas da laranja e acrescente uma pitada de sal. Misture e então acrescente a farinha de trigo e incorpore ela com uma espátula. Em outro recipiente coloque as claras e uma pitada de sal e bata até atingir picos moles, depois acrescente uma colher de sopa de açúcar e bata até atingir picos duros – clara em neve. Incorpore a clara em neve em 3 partes na outra mistura – com muita delicadeza, com movimentos de baixo para cima, para perder o menor volume possível das claras. Quando tudo estiver incorporado disponha em uma fôrma untada com manteiga e farinha e leve para assar em forno pré-aquecido à 180 graus por cerca de 30 minutos – ou até dourar e você espetar um garfo e ele sair limpo. Dúvidas? Veja o video no Youtube (link acima), tem o passo a passo detalhado.

Modo de preparo da cobertura:

Em uma panela em fogo médio coloque o leite condensado e a manteiga. Cozinhe mexendo sempre até atingir ponto de brigadeiro (quando você passa a colher e consegue ver o fundo e quando o doce solta das laterais quando você inclina a panela). Desligue o fogo e acrescente o suco de laranja, o licor, as raspas de laranja se for usar e as gotas de limão. Misture tudo e incorpore.

Finalize cobrindo o bolo com a cobertura (desenformado, se quiser). Eu gosto de dourar amêndoas em lâminas no forno à 180 graus por uns 5 minutos e finalizar, mas é totalmente opcional.

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Brioche French Toast, Rabanada, Pain Perdu.

Como fazer brioche french toast (também chamada de rabanada ou pain perdu) – Uma poesia à base de manteiga que ajuda a gente a caramelizar tardes cinzas sofridas, nessa vida às vezes legal, às vezes esquisita

Abaixo receita escrita, mas no Youtube tem um video com todo passo a passo completo. Lá mostro inclusivo como fazer a casquinha brûlèe caramelizada por cima mesmo sem maçarico:

No IGTV do meu Instagram @rodrigo.vilasboas também tem um video, se preferir ver lá, só clicar aqui.


Numa tarde chata qualquer misture 1 ovo com 1 xícara de chá de leite, 2 colheres de sopa de açúcar e algum perfume de baunilha. Bata bem. Pegue uma fatia de brioche, fure com um garfo e encharque todinha nesse creme que fez. Com gentileza, leve a fatia encharcada para uma frigideira quente com manteiga e frite dos dois lados até dourar (uns 2 min de cada lado). Preste atenção no cheiro da manteiga fritando o brioche – se você não parou para prestar atenção nos cheiros e detalhes, você ainda não entendeu bem a receita – que é sobre a felicidade discreta, escondida na simplicidade do cotidiano, e na manteiga. Assim já fica pronto e suficientemente bom, mas se quiser mais emoção e tiver um maçarico, coloque uma camada de açúcar por cima e toste, sem timidez, até caramelizar bem – eu amo incendiar coisas, me anima muito (tem a ver com mapa astral e com Paola Carosella). Sirva com iogurte, frutas, sorvete ou nada. Aqui servi do meu jeito preferido, com coalhada.

Queime brioches para caramelizações intensas e lindas, não queime as tardes vazias. Não sempre, eu sei, mas às vezes a gente só precisa de 4 ou 5 ingredientes, e as coisas melhoram um pouco. Não é apenas sobre uma rabanada, mas sim sobre o quanto você se propõe. Abraços amanteigados. Essa receita agradeço à Paola Carosella e Julia Child (pessoas que sabem o poder que a cozinha tem em tardes cinzas).

Como fazer o Reine de Saba da Julia Child! O bolo de chocolate com amêndoas mais sensacional de todos os tempos!

Reine de Saba – Desde que vi o filme Julie & Julia pela primeira vez persigo esse bolo (que aparece em uma cena do filme). Ele é um bolo cremoso de chocolate com amêndoas que juro, vai te emocionar. Quase não vai farinha de trigo nele, então ele assume uma textura cremosa linda e absoluta. É com muito gosto que ensino vocês uma receita emblemática da Julia Child – a mulher que mudou o modo como a América come e tornou a cozinha francesa uma arte possível de ser realizada por qualquer um em qualquer cozinha. Esse se tornou um dos meus bolos preferidos, ele me leva para um lugar gentil e extremamente confortável na primeira colherada. Vem pra esse lugar comigo! Receita completa abaixo!

Mas se quiser, tem um vídeo com a receita completa no meu IGTV no meu Instagram @rodrigo.vilasboas – pelo video é mais fácil ter noção das etapas e sua receita tem mais chances de dar super certo! Clique aqui para acessar meu Instagram! Aproveita e me segue lá no Instagram! Sempre tem receitas novas! 

Ingredientes:

Para o bolo:

  • 115g de chocolate amargo
  • 115g de manteiga
  • 2/3 de xícara de chá de açúcar
  • 1 colher de sopa de açúcar
  • 3 gemas
  • 3 claras
  • Uma pitada de sal
  • 85g de farinha de amêndoas
  • 2 colheres de sopa de café quente ou rum
  • 1/2 xícara de farinha de trigo

Para a cobertura:

  • 75g de chocolate amargo
  • 80g de manteiga
  • Amêndoas em lâminas para decorar

Você precisará de uma fôrma untada (com farinha e manteiga) de aproximadamente 20cm de diâmetro.

Modo de preparo:

Primeiro faça o bolo: Pré-aqueça o forno à 170 graus. Derreta o chocolate em banho-maria junto com o café (ou rum), reserve. Bata a manteiga com os 2/3 de xícara de açúcar até ficar um creme fofo e claro. Então acrescente as gemas e vá batendo para incorporar bem, uma a uma, então reserve.

Bata as claras em neve: No recipiente de uma batedeira adicione as claras e a pitada de sal, comece a bater até atingir picos moles (quando você ergue o batedor e a clara já está em neve mas ainda mole), então adicione a colher de sopa de açúcar e bata até atingir picos duros – onde a consistência da clara em neve será firme.

Adicione a mistura de chocolate na mistura de gemas e açúcar e bata até incorporar tudo. Adicione então nessa mistura a farinha de amêndoas e misture também para incorporar. Agora é hora de adicionar a clara em neve e a farinha de trigo. Atenção: Momento delicado e importante, faça assim: Coloque a mistura de chocolate em um recipiente grande que caiba todos os ingredientes. Vá adicionando partes da clara em neve e partes da farinha de trigo, mexendo com uma espátula delicadamente (nada de batedeira nessa parte) com movimentos de baixo para cima, até incorporar a mistura. Acrescente aos poucos a clara e a farinha e vá misturando, até toda clara e toda farinha estar incorporada.

Coloque a mistura na fôrma untada e leve para assar no forno pré-aquecido por 25/30 minutos – O ponto é quando as bordas estão rígidas e o centro ainda um pouco mole – essa é uma característica importante desse bolo, que garante sua cremosidade emocionante. Ao retirar do forno, só deixar esfriar por 10 minutos e depois desenformar.

Para fazer a cobertura: Derreta o chocolate em banho-maria e adicione a manteiga aos poucos, até incorporar tudo. Deixe esfriar para endurecer.

Estando o bolo frio e a cobertura também, é só cobrir ele todo e decorar com as amêndoas em lâminas. Seja feliz comendo, esse bolo é pra isso. Bon appétit.

Eu te amo, Julia Child.

Cozinhei as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de Paola Carosella. Finalização do projeto “Gratidão de todas as sextas”.

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Finalizei o projeto “Gratidão de todas as sextas”. Cozinhei as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de Paola Carosella. Me comprometi, no dia 11/11/2016 (clique aqui e veja como tudo começou) a cozinhar todas as receitas e ir postando (no meu blog e Instagram) toda sexta-feira o resultado daquilo que foi feito na semana, e assim foi.  Estou aqui pensando em como, em um texto de finalização, significar e registrar tudo que esse projeto foi, daí me ocorre que faz sentido começar esse texto falando do fim do projeto, da receita 94/94: O Pão Arturito – Eu levei 15 dias e 17 horas para fazer essa receita (o pão, em muitos sentidos, é o senhor do tempo), e quando acabei consegui firmemente compreender a maior lição do livro: O valor do tempo. É isso. É sobre isso que o livro é: Tempo, vida e cozinha – porque foi uma COZINHEIRA (em caps, para ser verossímel) que escreveu sobre tempo e vida, e ela fez isso através da cozinha.

O livro “Todas as sextas” é o primeiro livro de Paola Carosella. Ele é composto de um relato autobiográfico profundo e de 94 receitas – cada uma delas trazendo uma reflexão e uma conexão com a história da cozinheira. Não é um livro culinário qualquer.  As receitas nos fazem questionar nossas escolhas e hábitos, nos incomodam e nos movimentam. Para prepará-las tudo começava com a busca pelos ingredientes,  e essa era uma etapa muito séria, porque Paola no livro é convicta ao falar da importância dos ingredientes – tinham que ser ovos de galinha de vida digna, carnes de animais que também tiveram vidas dignas, frutas e legumes plantados e cuidados por pessoas que fazem do jeito honesto o que fazem, farinhas vendidas por pessoas que tenham “olhos de pessoas do bem”, confiáveis – e eu não estava afim de contrariar as indicações, eu queria fazer direito para aprender de verdade o que estava ali sendo dito, então foram muitas caminhadas por São Paulo para encontrar os ingredientes certos. Após ter encontrado tudo para cada receita, na hora de cozinhar eu tinha que escolher uma panela que eu tivesse carinho (afeto importa), tinha que tratar os ingredientes respeitando seu tempo de descanso (alguns precisavam de 1 hora, outros de 24 horas, outros de 15 dias). Eu também tinha que entender o valor do fogo baixo e do tempo lento de cozimento, nada de pressa e pressão. Para servir o prato, tinha que ser também numa louça bonita – eu tinha que ser atencioso e gentil com a refeição, a cada instante – e comer tudo isso no final era quase sempre uma oração, uma recompensa e reflexão profunda do que implicava todo o processo – e do que ia sendo transformado em mim enquanto eu transformava ingredientes desse jeito.

Cozinhar desse jeito muda a gente, não tem como sair igualzinho. Para fazer tudo isso antes de qualquer coisa eu tive que “parar” – frear a velocidade desse mundo rápido e agressivo que vivemos para experimentar, através das receitas, uma outra experiência de tempo – um tempo lento, que corre diferente, que precisa respeitar o tempo dos processos naturais, um tempo que me fez pensar em como eu estava usando e experimentando o próprio tempo da minha existência. A verdade é que eu entendi mais do que nunca o quanto perdemos por causa da nossa pressa, da nossa incompreensão das coisas e do tempo que elas precisam levar para ficarem prontas. Cozinhando assim, eu tive então “tempo” de pensar na minha relação com a natureza quando escolhia ingredientes e quando os tratava de determinado modo, tive tempo de compreender o que de bonito acontece quando esperamos, tive tempo de me acalmar depois de dias complicados enquanto estava ali, cortando uma cebola, por exemplo.  Tive tempo de pensar no quanto minhas escolhas impactam o mundo que eu habito. Tive tempo de pensar nos meus afetos e elaborá-los, enquanto construía uma refeição com minhas mãos. Tive tempo, inclusive, de me lembrar do quanto a cozinha é simbólica na minha vida e é, há tantos anos, o meu divã – lugar onde eu sempre pude me encontrar em paz comigo mesmo.

O livro fala muitas vezes da importância de fazer artesanalmente – com as nossas mãos – aquilo que vamos comer. Eu acredito de verdade que existe uma via terapêutica em fazer artesanalmente algo que normalmente compramos pronto no mercado. É uma via que te permite autonomia e apropriação de um processo que normalmente você deixa que façam por você. Isso também é transformador, existe uma auto-realização grande em terminar uma refeição e falar no final: Eu que fiz, cada detalhe, do inicio ao fim, eu construí e transformei isso, estou implicado na coisa. A gente registra no nosso psiquismo coisas muito importantes quando nos vemos implicados nas coisas.

Fazer as receitas do modo como Paola conta também me permitiu pensar em tantos aspectos sociais, no modo como temos tratado o mundo e como temos nos relacionado com as pessoas. Quando escolho comprar de um pequeno produtor o que meu dinheiro incentiva? Quando escolho alimentos orgânicos o que ajudo a manter com meu ato? Há muito a se pensar, comer é um ato político e nossas escolhas conduzem o lugar social das coisas. Temos mais poder do que pensamos. O livro “Todas as sextas” também é um alerta, sutil e gentil, mas um alerta.

Quando comecei o projeto, estava envolvido por um sentimento muito forte de gratidão. Ao ler o inicio do livro, que é composto de um relato autobiográfico de Paola, muitas coisas na minha história foram tocadas. O mais legal de admirar pessoas é em algum momento notar o que essas pessoas que admiramos podem nos revelar de nós a nós mesmos – se conduzirmos de uma forma boa, admirar alguém é algo que revela algo muito importante sobre nós,  algo que muitas vezes não reconhecemos como nosso, mas que é. O outro ajuda a gente a notar. No meio desse insight e gratidão por Paola ter feito uma obra tão generosa e honesta, eu quis cozinhar o livro inteiro. Era para agradecer, para aprender, para ter um propósito novo. Hoje sei que era mesmo preciso cozinhar o livro todo, porque era preciso que eu me encontrasse com tudo isso. Me sinto mais convicto em relação ao modo como escrevo, com cozinho e até como faço meu trabalho como psicólogo – pude pensar em tudo que a cozinha, de um jeito metafórico e profundo, me faz pensar – porque quando a gente entende melhor o valor do tempo, tudo muda.

O projeto “Gratidão de todas as sextas” nasceu de um encontro – do meu com o livro. Mas ele gerou muitos outros encontros. Através do meu Instagram, milhares de pessoas acompanharam as postagens e compartilharam comigo o que sentiam com elas. A troca de narrativas que o projeto gerou e o alcance que ele teve me surpreendeu e me emocionou muito. Então tudo começou a ser algo maior e com mais sentido, onde quem ia acompanhando ia se transformando junto comigo, repensando sua relação com a comida e com o tempo. O projeto foi feito de encontros que deixaram muitas marcas. Pensar nisso me emociona muito, vai pra sempre emocionar.

Existe sim uma semelhança nesse projeto com o que Julie Powell fez com o livro de receitas de Julia Child – Vemos essa história no livro e filme Julie & Julia, que conta como Julie decidiu cozinhar as 524 receitas do livro de Julia em 365 dias. Essa história também me inspira, porque assim como Julie eu também fui salvo de uma vida um pouco triste e sem cor quando decidi que precisava cozinhar e escrever (quando o blog nasceu, aliás). Mas aqui, Paola foi minha Julia e “Todas as sextas” foi meu “Mastering the Art of French Cooking”.

Enfim, é isso. Acabou as 94. Algumas acertei muito que pulei de emoção, outras errei bastante. Todas me ensinaram muito. Eu tenho tanta coisa ainda pra dizer desse projeto, mas acho que isso não se encerra nunca, não cabe num texto, cabe dentro de mim e da bagagem que levo agora. Eu tive sucesso no projeto – mas um conceito diferente de sucesso. No mundo onde tempo é dinheiro, sucesso tem a ver com velocidade, rapidez, lucro em menos tempo e etc – e esse tipo de “sucesso” pode ser um slogan aniquilador e vazio. O sucesso que eu tive no projeto veio da calma e do tempo que corre diferente, veio das caminhadas longas por São Paulo buscando ingredientes, veio das tardes calmas esperando a panela cozinhar durante horas, do tempo que eu tinha enquanto esperava perto da panela e podia pensar nas coisas da vida, veio da emoção de compartilhar, veio da alegria de sentar e comer na mesa todas as receitas com alguém que eu amava. O sucesso veio de parar, respirar fundo, fazer, depois apreciar, e guardar pra sempre. O nome dessa história é gratidão. Como em todos os dias em que cozinhei cada uma das receitas, hoje eu só queria agradecer.

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Olhando na categoria do blog chamada “Gratidão de todas as sextas” você encontra todas as postagens, de cada uma das receitas. No meu Instagram também (@rodrigo.vilasboas) tem tudo lá. Também é possível encontrar os posts na hashtag #gratidaodetodasassextas .

 

Gratidão de todas as sextas. Cozinhando as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de Paola Carosella. Iniciando a última e simbólica receita: O pão arturito – o senhor do tempo. 

Hoje eu fui atrás de maçãs, queria encontrar maçãs significativas porque elas não são para uma coisa qualquer – São para a receita 94/94 do projeto “Gratidão de todas as sextas”, aquele que me comprometi a cozinhar as 94 receitas do livro “Todas as sextas” de @paolacarosella . Vou encerrar com essa receita de propósito. É o pão porque o pão é o senhor do tempo, e o livro é sobre comida, afeto e tempo. O projeto tem sido uma das experiências mais profundas de tempo que tive. Eu sabia que não ia sair igual dele, mas não achei que era tanto. Achei essas maçãs orgânicas, honestas, diferentes umas das outras, de verdade e lindas na @solliorganicos , então comecei a fazer a água de fruta – o primeiro processo do pão de fermentação natural. O pão começou a nascer hoje em uma caminhada bonita por São Paulo enquanto eu ia atrás das maçãs. Agora uma delas está fermentando na água, e o pão está a caminho. Acompanhem. E se quiserem ver as outras 93 receitas que já fiz do livro (coração chega a pular quando escrevo isso), é só olhar na hashtag do projeto #gratidaodetodasassextas no Instagram  ou dar uma olhada na categoria aqui do blog chamada “Gratidão de todas as sextas”, tem toda uma história lá. Enfim. Só queria dizer que o pão começou, e agradecer. A foto linda do pão do livro, do @emperorofhoxton , diz muito, como todas as outras imagens do livro dizem profundamente muito. O pão pronto na imagem e as maçãs que achei hoje – os dois lados extremos do processo de criação natural do pão. Essa foto é simbólica, espero que entendam.

Cozinhando as 94 receitas do livro “Todas as sextas”,de Paola Carosella. A gratidão de “todas as sextas”. Tem um porque.

O dia que agradeci Paola, segurando a mão dela e sentindo que toda essa energia honesta, que vem quando a gente agradece, estava sendo de fato sendo enviada à ela.  Foi no lançamento do livro “Todas as sextas” em São Paulo. Uma das coisas mais lindas da vida é poder dizer à alguém o quanto somos gratos por algo. A vida é muito generosa quando nos da a chance de fazer isso. Essa foto representa muito pra mim.

Eu decidi cozinhar todas as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, da cozinheira Paola Carosella. As 94 receitas em até 1 ano, uma a uma até ter feito todas. E tem um porque. Um porque que faz isso ter todo sentido, por isso eu preciso dizer, com alguns detalhes. Há 2 anos conheci o trabalho de Paola através do Masterchef. A principio ela era pra mim uma chef elegante, fina, engraçada, famosa e incrivelmente talentosa, e só. Até então eu não sabia muito sobre ela. Depois de alguns meses vendo o programa passei a sentir algum tipo de entusiasmo ao ver Paola falar de alimentos, de técnicas, de pratos e da natureza. Daí fiquei curioso em saber mais dela (e eu queria mais desse entusiasmo também), então pesquisei mais sobre o trabalho e vida de Paola. Não precisei mais do que uns 3 resultados do Google para entender de onde vinha o entusiasmo que o discurso dela criava em mim. Paola falava de muitas coisas quando falava de alimentação. Falava de respeito ao ingrediente, respeito a enorme generosidade da natureza que devíamos levar em conta e ser generosos em troca. Falava de relações genuínas através da cozinha, de terra, do crescimento emocional através do trabalho duro, dos duros imperativos sociais que seguimos e mantemos quando escolhemos o que comer e como questionar esses imperativos repensando nossas escolhas – como ela diz: “comer é um ato social, cozinhar é revolucionário”. O discurso de Paola fez um laço com tudo que me levou a criar o blog, com toda minha necessidade de falar de gastronomia com um olhar afetivo, psicológico, social e poético. Então eu fiquei muito feliz em acompanhar o trabalho dela mais de perto – nessa época a vida andava um pouco triste, faltavam cores. Então surgiu um entusiasmo crescente. Cozinhar e escrever foi uma saída muito importante para eu manter uma posição criativa diante da vida, das suas faltas e excessos.

Um dia descobri que Paola trabalhou com o Francis Malmann. Pra mim foi emocionante pensar no laço dessas duas histórias, porque recentemente eu tinha visto um documentário sobre a vida e obra de Francis e fiquei fascinado com a liberdade que ele inspirava. A proximidade do homem com a natureza que ele é parte, o retorno as nossas origens e histórias para poder fazer um trabalho autêntico na vida, que exale nossa alma – as ideias de Francis me inspiraram muito. Assim como Paola me inspirou. Eram muitas inspirações que me questionavam, me incomodavam e me colocavam em movimento. É bom quando somos instigados a nos movimentar, a pensar em abandonos e inaugurações, normalmente é o começo da nossa originalidade. O mais legal de admirar pessoas é em algum momento notar o que essas pessoas que admiramos podem nos revelar de nós a nós mesmos – se conduzirmos de uma forma boa, admirar alguém é algo que revela algo muito importante sobre nós,  algo que muitas vezes não reconhecemos como nosso, mas que é. O outro ajuda a gente a notar.

Um outro dia, aliás, há 9 dias, ganhei de presente o livro recém lançado da Paola. Eu li o capítulo da biografia dela em 3 horas em um domingo que foi há 5 dias. Eu me emocionei muito – Por muitas coisas que não consigo dizer bem. Coisas da minha história foram movimentadas com essa leitura. Às vezes passamos anos em terapia pensando em algumas coisas. Às vezes em 3 horas lendo um livro é como se pensássemos em tudo de uma vez, como uma explosão de sentido. Muita coisa da minha história começou a fazer algum sentido diferente depois que li os relatos autobiográficos de Paola, pensei muito, principalmente sobre minhas possibilidades ao longo da vida de conseguir notar valor em mim e de buscar um olhar de amor.

Quando as pessoas resolvem compartilhar com generosidade suas histórias e experiências, podemos aprender algumas coisas valiosas.  O livro “Todas as sextas” me ajudou a ver a fragilidade e humanidade de Paola, o que consequentemente me ajudou a ver o brilho dela de maneira mais intensa e real. O que é de verdade, o que tem defeitos, o que tem medo, o que tem fracasso e o que tem imperfeição é muito mais real. Quando temos ídolos quase que o separamos de aspectos humanos e frágeis, vemos aquele brilho lindo e nos atentamos a isso. Quando um ídolo conta sua história de verdade ele nos faz desconstruir uma idealização e nos da de presente o seu real. Isso é de alguma forma lindo porque nos convida a pensar no quanto às vezes nos achamos menos do que somos. Se vemos a fragilidade nas pessoas que admiramos perdoamos nossas próprias fragilidades e nos reconectamos com a condição mais humana de todas: A imperfeição. E isso é libertador. A verdade é que histórias lindas são construídas por pessoas reais, com vidas tão cheias de “rachaduras” (expressão que Paola usa no livro) como as nossas. Enxergar isso nos encoraja a chegar mais perto do nosso próprio brilho, um brilho real que existe no meio de toda imperfeição que somos. E além disso, nos faz admirar esse ídolo de uma forma nova e mais linda ainda, porque agora ele é mais real. O real é lindo. Quando Paola contou através do livro uma história humana e imperfeita ela me convidou a revisitar o conceito de sucesso, e do que esse conceito é feito quando é de verdade e não um slogan vazio e aniquilador.

E há 2 dias eu encontrei Paola pessoalmente, na noite de autógrafos de seu livro em São Paulo, abracei ela e toda essa história que contei acima. Podem imaginar como foi, então, né? Eu tremi porque era muito importante estar ali e agradecer, por tudo isso que a obra dela me ajudou a conectar, reconectar e significar. O mais incrível foi encontrar pessoalmente exatamente a Paola que li sobre – simples, divertida, elegante (no sentido mais legal da palavra) e generosa. Muito humana, nada de deusa da televisão intocável. Às vezes uma pessoa na mídia mostra uma imagem lustrada e muito irreal. Paola não, Paola era ela ali como me parecia ser em todo canto que vi ela, quem eu esperava abraçar eu abracei. Através do seu trabalho, manifestações públicas e redes sociais ela sempre mostrou seu real, de algum modo quando encontramos ela pessoalmente legitimamos isso. Paola foi generosa com as aproximadamente 400 pessoas que foram lá abraçá-la. Esteve de pé, recebendo todos com sorriso, abraço e alegria. Ela também parecia querer agradecer. Foi lindo sentir que ela prestava real atenção e conferia muito valor e respeito a tudo que ouvia – eu fiquei abestadamente emocionado quando vi que a dedicatória que ela fez ao autografar meu livro era em sintonia com o que eu tinha dito pra ela naqueles poucos minutos que tivemos juntos (eu falei de gratidão, eu só queria agradecer). Ela ouviu de verdade o que dissemos. Mesmo com tanta gente, com tanta coisa, com tanto encontro, ela deu o maior espaço possível para cada um que foi lá. Isso é muita generosidade. Era a Paola que eu li sobre, mesmo.

E foi por gratidão que eu fui vê-la. Era tão importante pra mim dizer obrigado. Eu não tinha como, não tinha tempo, de contar essa história toda pra ela, mas eu tinha tempo de dizer obrigado, e isso já era maravilhoso. Eu pude dizer o quanto sou grato a ela por tanta coisa que o trabalho e história dela despertou em mim. A vida é muito generosa quando nos permite agradecer. A gratidão é a melhor via para o amor fluir.

E agora, porque decidi cozinhar as 94 receitas do livro “Todas as sextas”? Principalmente por gratidão, que é o nome da história que contei agora. O livro é constituído a partir da história de uma das pessoas que mais me inspirou a olhar com vida e criatividade para minha história atualmente, então faz todo sentido que eu cozinhe o que ela ensina. Outro elemento é que eu preciso cozinhar mais, eu quero aprender mais e aprender essa gastronomia, sensível a natureza, ao mundo, aos afetos, aos laços sociais e ao amor – Paola ensina a culinária que ressoa em mim, a cheia de respeito, generosidade, humanidade e história, e é essa que eu quero aprender mais. Costuma ser muito bom aprender algo que é ensinado com autenticidade e generosidade. Farei as 94 receitas dentro do período de 1 ano, e toda sexta postarei a foto do resultado do que cozinhei na semana corrente. A receita não será compartilhada, claro, apenas a foto do resultado junto com minha experiência emocional ao fazer cada prato – o que será uma forma de ampliar a gratidão que sinto e também perceber os laços emocionais que cada preparo evocará em mim, as marcas que ficarão (notar as marcas que as coisas deixam é muito importante). Cada receita terá um sentido. Através da generosidade de Paola, que compartilhou tanto no livro, buscarei aprender, experimentar, para me conectar com os laços e discurso que ela lança, e ao mesmo tempo me conectar comigo mesmo, com meu discurso interno, movimentando a mim mesmo.

Existe sim uma semelhança nesse projeto com o que Julie Powell fez com o livro de receitas de Julia Child – Vemos essa história no livro e filme Julie & Julia, que conta como Julie decidiu cozinhar as 524 receitas do livro de Julia em 365 dias. Essa história também me inspira, porque assim como Julie eu também fui salvo de uma vida um pouco triste e sem cor quando decidi que precisava cozinhar e escrever (quando o blog nasceu, aliás). E Julia Child também me inspira muito, muito mesmo, assim como Paola, assim como Francis, assim como Raíza Costa. Mas no caso, Paola será minha Julia e “Todas as sextas” será meu “Mastering the Art of French Cooking”.

São esses todos os motivos que sei (devem ter outros que ainda não sei) do porque cozinharei as 94 receitas do livro “Todas as sextas”. São motivos muito importantes para mim. Sexta que vem, 18/11/2016, começa. Terá uma categoria exclusiva no blog chamada “Gratidão de todas as sextas” para essas postagens, e elas estarão também no meu Instagram e Facebook. Uma postagem toda sexta. A sexta-feira é meu dia preferido. Será agora um dia de gratidão.

Receita da Mousse de Chocolate da Julia Child (Julia’s Mousse au Chocolat).

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Julia Child é um retrato perfeito do quanto revolucionário o ato de alimentar-se pode ser. Ela revolucionou sua história com a culinária, e também a história da gastronomia norte-americana (Clique aqui e veja o que já escrevi com muito amor e respeito sobre Julia, ficará mais legal fazer a receita após ler sobre ela). Conhecer a história de Julia Child foi uma das maiores inspirações que tive para criar o blog. Dividir essa receita é dividir um grande afeto que permeia meu contato com a cozinha, cozinhar algo de Julia é simbólico e sempre será. Receita delicada francesa, deliciosa, equilibrada, eficiente. Já dividi aqui a receita de uma tradicional Mousse de Chocolate Francesa (clique aqui e confira), mas considero essa da Julia mais encantadora e interessante ainda. Ponto importantíssimo: Cozinhe com a alegria e empolgação que a cozinha de Julia representa. Seja feliz fazendo, e bon appétit!

Ingredientes:

Modo de preparo:

Separe as gemas das claras dos ovos. Coloque as gemas em uma panela, fora do fogo, e bata com um fouet até ficarem um pouco mais claras. Em outra panela, coloque o açúcar e o café, dissolva e leve ao fogo até levantar fervura. Então incorpore essa mistura de café e açúcar as gemas aos poucos, lentamente, mexendo com um fouet sem parar (é importante colocar aos poucos e mexer sem parar para que a mistura quente não cozinhe as gemas inadequadamente). Quando finalizar e tudo estiver incorporado, reserve.

Coloque o chocolate em uma tigela e acrescente o rum, derreta em banho-maria ou no microondas.

Leve ao fogo em banho-maria a mistura de gemas, açúcar e café para cozinhar lentamente. Mantenha no fogo por 7 à 10 minutos, mexendo sempre vigorosamente, até a mistura ficar cremosa e com aspecto espumado. Retire então do fogo e leve a batedeira, e bata por 5 minutos. Reserve.

Acrescente no chocolate derretido com o rum a manteiga, e misture tudo para incorporar, até a manteiga estar completamente derretida e incorporada ao chocolate.

Depois incorpore a mistura de gemas à mistura de chocolate, e mexa bem.

Bata as claras em neve (em um recipiente bem limpo e seco). Quando a clara estiver já endurecendo acrescente uma pitada de sal e continue batendo até atingir o ponto exato de clara em neve.

Abra um espaço no recipiente onde estão as claras em neve e acrescente a mistura de chocolate e gemas. Então incorpore DELICADAMENTE as claras em neve a essa mistura, não bata nem mexa muito rápido, e mexa em movimento de baixo para cima – siga isso para não perder a leveza das claras em neve. Faça isso até que toda a mistura esteja incorporada. Em seguida, acomode a mistura nas taças que for servir e leve a geladeira para que adquira firmeza (cerca de umas 2 horas). Daí, é só servir. A experiência de prová-la é algo que deve emocionar.

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Mas que gracinha…

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Bon appétit! E obrigado Julia!

Julia Child: O mito que ensina sobre a possibilidade de inauguração existencial na arte de cozinhar.

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Julia Carolyn McWilliams  – A Julia Child –  para quem entende as inaugurações e ousadias que cozinhar é capaz de produzir em nossas vidas, falar de Julia é encontrar em uma história todo o amor e autenticidade que a cozinha produz e exala. O entusiasmo de uma mulher que decide não mais apenas comer, mas sim criar suas próprias experiências sensoriais na cozinha, revela o quão transformador a arte de cozinhar pode ser em uma história. Julia ousou desvendar a cozinha francesa, e através disso transformou não apenas sua vida, mas toda história da cozinha americana, inaugurando novas perspectivas culturais sobre o ato de cozinhar e comer. Julia, somada a outros artistas que tanto admiro (como Paola Carosella e Raíza Costa) foi enorme inspiração para que eu iniciasse um intenso mergulho em mim mesmo através da gastronomia, assim como foi essa mesma inspiração para milhares de pessoas.

Julia nasceu em 15 de agosto de 1912, na Califórnia (EUA). Sua história com a culinária começou após seus 30 anos, antes disso fez diversas coisas, já foi esportista (praticou tênis, basquete e até golf), trabalhou como redatora, e também trabalhou durante a segunda guerra mundial na OSS (Escritório de Serviços Estratégicos), foi onde conheceu Paul Cushing, militar que também trabalhava na OSS, com quem viria a se casar em 1946.

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Julia iniciou seu interesse por culinária quando mudou-se para França para acompanhar o marido. É encantador como a sensibilidade, a arte e o charme da cozinha francesa toca o sentido existencial dessa mulher, que decide compreender mais da cozinha, mais de si mesma, mais de um prazer que lhe renderia muito mais do que uma simples ocupação do tempo. Julia se matriculou na lendária Le Cordon Bleu de Paris, estudou, enfrentou desafios para lidar com preconceitos (mulher na alta gastronomia era – talvez ainda seja – um desafio grande). Começou então a entrar cada vez mais no mundo da gastronomia, até se envolver em um projeto com outras duas cozinheiras (Simone Beck e Luisette Bertholle), que juntas escreveram um livro de culinária francesa para americanos (O famoso “Mastering The Art of French Cooking”). A partir daí Julia iria aos poucos intrigar e encantar muitas cozinheiras americanas, as convidando a algo novo, tornando o que parecia ser algo tão distante muito acessível. Julia virou uma grande referência, virou apresentadora de televisão, com seu jeito irreverente, espontâneo e autêntico encantava a todos, mostrando o quão cozinhar poderia ser simples, grandioso, divertido e mágico. Seu famoso “Bon appétit” com o qual finalizava todos seus programas – dizendo de um jeito tão entusiasmado que faz a gente até rir ouvindo – é uma de suas maiores marcas.

Um dos mais famosos legados de Julia - "Mastering the Arte of French Cooking".

Um dos mais famosos legados de Julia – “Mastering the Arte of French Cooking” – Edição atual com 2 volumes. 

Conhecer Julia através do filme Julie & Julia (Clique aqui e confira artigo sobre o filme) ajudou a nascer um incomodo em mim, um incomodo que me dizia: “Ei, ta faltando você fazer alguma coisa que você sabe que quer fazer, não acha?”. Foi então que comecei a cozinhar mais, cozinhar todos os dias, encontrar (talvez reencontrar) a delicadeza, poesia e sensibilidade que meus dias estavam gritando por. Cozinhar preenche coisas importantes em mim, coisas que preciso. A história de Julia me ajudou a mergulhar mais na cozinha e nas minhas emoções, e isso somado a outras coisas me ajudou a parir o blog. Julia foi a porta para o encontro com uma possibilidade já habitante em mim à tempos, e que eu precisava desenvolver mais. Ela me faz ver o divã que vejo na minha cozinha e deitar nele, para encontrar a mim mesmo e construir as inaugurações existenciais que acredito que a cozinha é capaz de proporcionar.

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Bon appétit!

Cinema e Gastronomia – Julie & Julia – Sobre o efeito transformador existencial da culinária, sobre o amor.

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Julie & Julia (Columbia Pictures, USA, 2009) – Como destacar o que mais me emociona nessa obra? Na verdade a coisa mais especial que esse filme me traz é uma espécie de iluminação, uma adição de cores que a vida pode ganhar quando nos envolvemos com algo que ressoa em nosso coração. No filme, cozinhar se mostra como um caminho que reaproxima a personagem principal dela mesma, é como encontrar um modo de se desafogar de uma vida cheia e ao mesmo tempo com alguns vazios insistentes – a aventura da arte de cozinhar preenche. Me identifico bastante com todos esses aspectos transformadores que uma prática significativa pode trazer para a vida de alguém. Cozinhar, brincar nessa arte de múltiplas experiências sensoriais é um modo de elaborar afetos, de saborear outras perspectivas da própria vida.

O filme conta a história de 2 mulheres envolvidas pelo amor que a culinária desperta em suas vidas. Encontramos a história da famosa (linda e lendária!) chef americana Julia Child nos primeiros anos de sua carreira culinária (Clique aqui e confira artigo sobre a cozinheira americana Julia Child), e da nova-iorquina Julie Powell, que em meio a uma época de questionamentos existenciais decide entregar-se ao mundo da culinária, dando-se então o desafio de cozinhar todas as 524 receitas do famoso livro de receitas de Child em 365 dias, um desafio que ela descreveu em seu blog popular que faria dela uma autora publicada. A história dessas duas mulheres, de épocas diferentes mas de sentimentos similares, é contada simultaneamente, contrastando o universo das duas e nos encantando a cada receita. É possível sentir o sabor desse filme e respirar o ar da França – em toda a magia e delicadeza da cozinha francesa que o filme traz.

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A obra é inspirada nas publicações dessas duas mulheres (A autobiografia de Julia Child – “My life in France“, seu lendário livro de receitas “Mastering The Art of French Cooking”, e o livro que deu origem direta ao filme, “Julie & Julia”, da encantadora Julie Powell).

O filme está disponível no “Netflix”, no aplicativo para assistir filmes online “Popcorn Time”, e no site “Filmes Online Grátis”.

Veja o trailer:

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