Como fazer escargots com manteiga de ervas – e como se ampliar comendo algo que está fora das suas referências culturais.

Escargot, do francês, “caracol comestível”. Coma, algumas vezes, coisas que não fazem parte de suas referências culturais. É uma pena que a gente se encerre nos limites do nosso referencial e olhe pro diferente hora com medo, hora com desrespeito, hora com agressão. Chega perto do mundo que não é igual ao seu e construa descobertas, mais respeito, informação e ampliação pessoal autêntica – se aproximando e dando uma chance para aquilo que é contraste com você. Tanta coisa linda pra sentir e viver e a gente perdido em fobias. Descobre porque você tem medo, pede ajuda, e vai ver que mundo lindo e diverso, meu filho. Eu estou falando de provar escargot, mas também estou falando da vida.

O jeito mais fácil de encontrar escargots por aqui são os em conserva, por isso a receita é com eles. Escolha um de uma marca e origem confiável. Um dos melhores vem da Borgonha, na França, que são colhidos à mão por um povo que os respeita muito, e cria coisas emocionantes com eles.

Ingredientes (para 2 ou 3 pessoas, como entrada):

•Cerca de 15 escargots em conserva escorridos
• 1 taça de vinho branco
• 3 colheres de sopa de manteiga derretida
• 2 colheres de sopa de ervas picadas bem finamente (uso sempre salsinha e cebolinha)
• Sal e pimenta-do-reino preta à gosto
• Algum pão maravilhoso, para acompanhar

Modo de preparo:

Misture bem a manteiga derretida com 1 colher de sopa do vinho branco, as ervas, o sal e a pimenta. Depois de misturar leve pra gelar até ficar consistente. Escorra os escargots e deixe de molho no restante do vinho branco por 10 minutos. Então coloque 1 escargot em cada concha, e acrescente nelas, fechando até o topo, a manteiga de ervas. Arrume as conchas em uma assadeira com uma base de sal grosso (para ajudar a equilibrá-las). Se você não tiver conchas, é só dispor os escargots em um recipiente que possa ir ao forno, mas um pequeno para que não fiquem tão espaçados um do outro, e cubra todos eles com a pasta de manteiga. Então, com ou sem conchas, leve ao forno à 200 graus por 10 minutos. Pronto. Para comer, tira-se os escargots das conchas com garfinhos. Aproveita-se a manteiga que ainda fica nas conchas regando pedaços de pães. É diferente, mas é especial e bom, se você permitir.

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Cinema e gastronomia – Filme: Le Chef (Comme un chef).

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A gastronomia tem se tornado cada vez mais objeto de desejo e consumo. O glamour, chefs estrelados, restaurantes badalados e todo viés econômico em volta disso tem construído uma ideia de exuberância em volta da gastronomia. Entretanto, há algumas coisas que precisam ser lembradas sobre o que significa cozinhar – para além de todo esse glamour, existe algo muito importante nesse ato que nos acompanha desde a origem das civilizações. Cozinhar é uma entrega que fazemos ao outro, é uma construção que nos conecta as pessoas, contorna inúmeras relações e mostra o valor do coletivo. O filme francês Le Chef é divertido, traz toda a riqueza da cozinha francesa e também traz recados muito importantes.

Ele conta 2 histórias: a de um cozinheiro amador buscando um lugar profissional e a de um chef francês estrelado. Contornando a história desses dois o filme mostra o quanto o espetáculo e glamour pode distanciar cozinheiros de coisas valiosas que a cozinha oferece. Quando um chef estrelado se lembra de ser cozinheiro e se conecta com a verdadeira essência da cozinha, algo especial acontece. O filme nos lembra do ato de amor, doação e generosidade que envolve a cozinha quando cozinhamos para o outro e com o outro, e não apenas para nosso prazer pessoal e vaidade – tanto na cozinha caseira, quando cozinhamos para quem amamos lhes oferecemos algo construído pelas nossas mãos, quanto na cozinha profissional, quando cozinhamos ao lado de uma equipe, fazendo no coletivo um trabalho que afeta a vida de todos ali, do local onde o restaurante está, dos fornecedores de ingredientes e das pessoas que irão comer. Há uma conexão gigante na cozinha entre muitas pessoas. Estão todos juntos.

A cozinha é um ato coletivo e generoso se assim a enxergamos e nela atuarmos. Talvez o mais tocante do filme seja como ele mostra um chef estrelado saindo de sua individualidade e compreendendo que a essência real da cozinha não é apenas cozinhar para nosso prazer e vaidade, mas sim lembrar de todo esse coletivo que ela é e o tanto de gente que ela afeta, se reconectando assim com a via mais genuína desse trabalho.

Contando as aventuras do cozinheiro amador Jacky Bonnot para conseguir um lugar profissional, onde pudesse dar vazão a sua via criativa, o filme traz todo esse tema importante, de forma divertida e deliciosa – nos fazendo navegar no mundo gastronômico fascinante que a França tem. Quando a história de Jacky topa com a história do estrelado chef Alexandre Lagarde, ambos começam uma relação que transforma suas vidas para sempre, os fazendo repensar suas práticas e o sentido que a cozinha tem para ambos. Super indicado! O filme até a data de hoje (02/07/2017) está disponível na Netflix! Vale muito apena. Aproveite e bon appétit!

Le Chef  – Como um chef! 

Título original: Comme un chef (California filmes, 2011). 

Como fazer Madeleines e de onde elas vem? Aprenda a sentir o melhor que uma madeleine pode te trazer!

Madeleines – um dos maiores símbolos da França. Originária da região de Lorraine (do mesmo santo lugar de onde veio a quiche lorraine) esse bolinho traz “joie de vivre” pra gente – a alegria de viver. Alguns dizem que ela surgiu na cozinha do duque de Lorraine, Stanislas Leszcynski (que era, além de sogro de Louis XV, rei da Polônia que perdeu seu reino e então ficou exilado na França). Diz a história que o duque um dia receberia para o jantar o polêmico escritor Voltaire, que era odiado por todos naquela cidade, tanto que o mordomo e padeiro do duque se recusaram à servi-lo. Então a cozinheira da casa, Madeleine, para salvar o jantar fez uma receita de bolo que aprendeu com sua avó – que ficou tão boa que ganhou a apreciação do duque, de seus convidados e depois se espalhou pela cidade, em seguida por toda a França, levando o nome da cozinheira. As madeleines também foram imortalizadas na obra “Em busca do tempo perdido” do escritor Marcel Proust, que usa as madeleines para explicar suas ideias sobre memórias afetivas evocadas através do gosto de algo (no caso do exemplo que ele conta na obra, através do gosto de uma madeleine).

Não é a toa que as madeleines ganharam tanta fama e ainda foram escolhidas por Proust para ilustrar suas ideias sobre tempo e memórias. Recém-assadas elas nos proporcionam uma experiência marcante, de memória eterna. Ao sair do forno possuem um breve momento de glória, apresentando bordas sutilmente crocantes, um centro macio e ao  ser mordida libera um vapor cheio de aroma, que é um sopro de vida, absolutamente emocionante. Mas  isso só acontece nos seus primeiros 5 minutos, depois já mudam de textura. Ficam boas depois também, mas essa glória dos primeiros 5 minutos é algo mágico, prove ao menos uma vez na vida. Já disse Dominique Ansel: “Pisque e você vai perder o melhor da madeleine”. Elas sensivelmente nos mostram uma lição sobre o tempo e sua sutileza – sobre o sopro da glória que é rápida mas que deixa uma marca eterna. É complexo de explicar, melhor sentir. Vamos a receita.

Ingredientes (para aproximadamente 22 madeleines): 

  • 3 ovos
  • 130g de açúcar
  • 200g de farinha de trigo
  • 10g de fermento em pó
  • rapas de 1 limão-siciliano ou laranja
  • 180g de manteiga
  • 20g de mel
  • 60 ml de leite

Modo de preparo:

Você precisará da manteiga derretida, mas ao invés de só derreter, eu faço uma coisinha que aprendi com a Raíza Costa: se você “queimar” um pouquinho a manteiga ela cria um sabor bem mais intenso, que beira o sabor de nozes, e deixa sua receita muito mais encorpada com um tom incrível! Para isso, basta fazer o seguinte: Coloque a manteiga em uma panela em fogo brando, quando derreter você verá os sólidos do leite subindo e se separando da gordura (formando uma espuma na superfície), depois de alguns segundos esses sólidos (a espuma) vão afundar e tostarão no fundo da panela, deixando a mistura num tom castanho escuro – quando atingir essa cor desligue a panela – pronto, essa reação deixará a manteiga com um sabor singular incrível! Quando desligar o fogo, misture nela o mel e o leite. Reserve.

Bata os ovos com o açúcar até ficar mais esbranquiçado e espumoso. Adicione a farinha e o fermento e misture tudo. Em seguida acrescente a mistura de manteiga derretida e as raspas de limão, misture tudo até ficar homogêneo. Cubra e deixe na geladeira por algumas horas ou por uma noite – esse descanso é muito importante para você ter a experiência emocionante ao morder sua madeleine.

Após o tempo de descanso da massa, hora de assar. Pré-aqueça seu forno à 200 graus. Unte com manteiga e farinha as forminhas de madeleine se tiver, se não tiver unte as que tiver. Coloque a massa nas formas (não encha as formas até o final, coloque massa um pouco acima da metade do espaço). Leve para o forno pré-aquecido e asse à 200 graus por 5 minutos, então abaixe o forno para 180 graus e deixe mais cerca de 10 minutos – até ficar dourado nas bordas.

Enquanto assa, deixe seu chá ou o que for acompanhar prontos, na mesa, esperando – porque quando as madeleines sairem do forno você precisa comer pelo menos uma delas no momento de glória – que são os seus primeiros 5 minutos. Morda, sinta, respire essa vida incrível que ela exala nesse momento. Enfim, espero que ao morder entenda a emoção que escrevo aqui.

Dicas: Antes de assar as madeleines, você pode espetar uma framboesa fresca em cada uma delas, fica muito gostoso. Também pode fazer cremes doces de seu agrado para acompanhar. Seja criativo e faça algo que tenha sentido para você para complementar, você é livre para criar e a cozinha te lembra disso.

Bon appétit!

Cinema e Gastronomia. Filme: Os Sabores do Palácio. 

Enxergar o Palácio de Eliseu (lugar mais poderoso da França) através de uma cozinha simples. Esse contraste que o filme “Os Sabores do Palácio” apresenta nos faz pensar sobre nosso apego pelo complexo e desprezo pelo simples e original (que evoca origem, essência) . O filme fala disso quando o homem mais poderoso da França, que pode comer o que quiser, decide comer comida caseira – aquela singela, mas com uma carga afetiva que alimenta muitas fomes na gente.

Os filmes franceses tem uma delicadeza e intensidade silenciosa que pra mim são um tiro na alma, na nossa sensibilidade mais profunda, crua e real. Um filme francês sobre gastronomia então, pra mim é tudo isso vezes 3 – é um escandâlo de significativo. “Os Sabores do Palácio” toca muitos elementos importantes: A alta gastronomia complexa em seu contraste – e na verdade, encontro – com a gastronomia simples, caseira, clara, próxima da nossa natureza familiar. O filme também fala de caminhos que escolhemos e deixamos de escolher, de um trajeto profissional e emocional, de receitas, de machismo, de identidade, verdade e amor.

Hortense Laborie, uma respeitada e simples cozinheira recebe uma proposta que muda sua vida: cozinhar para o presidente da França. Através dos desafios que vem com seu novo emprego, ela nos conduz pela sua história de fibra, arte, convicção e encanto e nos faz dançar a música que sempre é possível escutar na cozinha: aquela melodia que conta histórias importantes e sempre revela marcas afetivas, culturais, familiares e históricas. Hortense nos lembra que a cozinha é um lugar de fazer pessoas se sentiram abraçadas, se sentirem parte de uma história e de um lugar no mundo.

Até a data desse post o filme está disponível na Netflix. Corre pra ver antes que saia do catálogo! Vale muito a pena.

Dados técnicos:

  • Os Sabores do Palácio (Les saveurs du palais), 2012, França. Direção: Christian Vincent.

Receita da tradicional Baguete Francesa!

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Baguette – le pain égalité! (O pão da igualdade) – Durante a Revolução Francesa, em 1793, um decreto tornou obrigatório que ricos e pobres tivessem acesso ao mesmo tipo de pão – foi então instituída a famosa baguete – o pão da igualdade, o que se deve a sua econômica produção (não usava leite, ingrediente que encarecia os produtos na época), entre outros aspectos. Hoje é um dos maiores símbolos do país, ir a França e não comer uma baguete é como amar a Madonna e nunca ter dublado Like a Prayer em casa sozinho (Acho que não foi a melhor comparação, mas foi o que me veio na cabeça no momento, sem referências autobiográficas – risos). Confira abaixo a receita da tradicional baguete francesa!

Antes algumas observações:

  • A escolha da farinha é sempre muito importante para conseguir um pão bom de verdade. A farinha orgânica é sua melhor opção, se não encontrá-la, use a farinha comum (conhecido como tipo 1) – nunca compre aquela denominada “especial”. E pense na marca de farinha que irá escolher, crie familiaridade com uma farinha, conheça sua produção, origem e qualidade, isso é importante e te trará comida de verdade, com resultados emocionantes.
  • Essa receita é muito mais adequada de fazer com uma batedeira com gancho – aqueles de “amassar massa”. Você pode tentar na mão, porém é uma massa muito úmida, e precisa ser mesmo, na mão fica difícil mas é possível. Só não se deixe levar e por mais farinha para facilitar, isso tornará a massa seca, e não úmida e incrível como uma baguette deve ser.
  • O glútem se forma magicamente mas pode ser destruído se você movimentar a massa mais que o preciso e na hora errada, por isso preste atenção nos tempos da receita.

Que seja emocionante fazer e comer. Siga em frente!

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Ingredientes (Para 3 baguetes médias):

  • 500g de farinha de trigo (talvez um pouco mais para atingir o ponto exato da massa). Preferência para farinha de trigo orgânica, se não achar, a comum, mas uma que confie e saiba que é boa.
  • 15g de fermento biológico fresco (um tablete daqueles mais comuns de se encontrar por aí).
  • 380 ml de água morna
  • 10g de sal
  • 3 a 4 colheres de sopa de azeite de oliva extra-virgem
  • Manteiga para untar um recipiente

Modo de preparo:

Dissolva o fermente em 4 colheres de sopa da água morna em uma tigela, esfarelando ele, após dissolver todo deixe descansar por 5 minutos.

Se tiver a batedeira que bata massa de pão, hora de pegá-la, se não, use suas mãos e um recipiente para misturar os ingredientes. Coloque a farinha de trigo no recipiente (caso esteja usando a batedeira, já coloque no recipiente dela) e misture com o sal. Em seguida abra um buraco no centro e acrescente o fermento, a água e o azeite.

Se estiver usando a batedeira é só começar a bater (com o gancho para massa) em velocidade baixa por 1 minuto, então desligue a batedeira um instante, passe uma espátula em volta do recipiente e misture para garantir que tudo incorpore, e volte a bater na velocidade 1. Após esse tempo, colocar na velocidade 2 e bater por mais 10 minutos, Após esse tempo verifique se a massa chegou ao ponto, que é o ponto de véu: Um ponto onde você estica a massa e ela fica quase transparente, mas sem rasgar – ou seja, muito elástica. Se ela não tiver atingido esse ponto, esfarinhe uma superfície, coloque a massa, esfarinhe um pouco a mão e trabalhe a massa até atingir o ponto de véu e adquirir essa elasticidade linda que queremos. Atenção: Não acrescente mais farinha para facilitar seu trabalho, a massa é mole e úmido e precisa manter assim, apenas esfarinhe sua mão e superfície para trabalhar a massa, sem por mais farinha na massa.

Se for usar suas mãos, siga os mesmos tempos, mas com suas mãos e energia: comece a mexer essa mistura ainda no recipiente e se preferir, comece com uma espátula, porque no inicio a massa pode grudar muito nas mãos – como eu disse, é uma massa bem úmida. Mexa lentamente por 1 minuto até tudo estar incorporado, depois continue menos lentamente por 5 minutos, e depois com mais energia (mas sem agressividade) trabalhe ela por 10 minutos. Faça isso até atingir o ponto de véu (descrito acima), quando atingir, pare de mexer.

Coloque essa massa linda e macia (passe os dedos e sinta a maciez) em um recipiente untado com manteiga, cubra-o com um pano úmido ou plástico e deixe em um lugar de temperatura amena por 1 hora e meia descansando.

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Depois de descansar, volte a massa para a superfície de trabalho (que deve estar enfarinhada) e amasse ela gentilmente só um pouquinho, cerca de 30 segundos (para essa parte não use batedeira, precisa ser toque gentil, humano). Nessa parte já divida a massa em três partes iguais e comece a formar as baguetes com cada uma das partes: pegue o pedaço da massa, vá rolando fazendo o formato de um cilindro, esticando gentilmente a massa do meio para as extremidades, então faça dobras na massa (pegando as pontas das extremidades, levando até o meio e depois rolando de novo, formando um novo cilindro – o formato das baguetes. Essa coisa de dobrar a massa e ir enrolando é importante para permitir uma maciez interessante e adesão de ar. Deixe-as do tamanho e cumprimento de sua preferência.

Coloque as baguetes na fôrma que irá assar (unte com manteiga e farinha de trigo se sua fôrma não for antiaderente). Se tiver fôrmas especiais para baguete, será perfeito. Cubra-as com um pano e deixe descansar por mais uns 40 minutos. Um pouco antes de terminar o tempo de descanso, já pré aqueça seu forno à 240 graus.

Após esse tempo de descanso faça os famosos cortes nas baguetes (de preferência com uma navalha ou faca bem afiada). Os cortes são a assinatura do padeiro, faça quantos quiser. Normalmente são transversais e a quantidade um número ímpar. Não os faça muito fundos, bem superficiais e singelos – ao assar eles aumentam. Após isso leve direto ao forno (eu gosto de polvilhar uma mistura de farinha de trigo com farinha de semolina por cima). Importantíssimo: No momento em que colocar as baguetes para assar, coloque uma fôrma ou outro recipiente com água dentro do forno, embaixo da grade onde as baguetes estarão – o vapor da água fará com que as baguetes adquiram aquela casquinha crocante deliciosa.

Asse à 240 graus por 15 minutos, depois abaixe para 220 graus e asse até ficarem douradas e lindas – um total de mais ou menos 40 minutos no forno.

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Prontinho! Aproveite essa delícia tão francesa e tão maravilhosa e bon appétit!

Tartine de chocolate e azeite de oliva – Uma variação doce dos tradicionais sanduíches abertos franceses!

Tartine – do verbo francês “tartiner”, que significa “espalhar no pão” – nada mais é do que um sanduíche aberto. Um pão com algo em cima. Existem inúmeras opções de recheio e de pães para fazê-las – desde a tradicional preferida dos franceses – baguete com manteiga e geleia – até outras mais elaboradas. Na verdade é um prato bem simples de fazer, coisa bem “sanduíche” mesmo, mas com a sofisticação e charme francês.

Essa receita é de uma tartine doce, em homenagem à Páscoa! Fácil e linda, vamos lá!

Ingredientes:

Modo de preparo:

Coloque a barra de chocolate no freezer por uns 10 minutos, e depois rale ela (ou pique com uma faca). Pincele azeite de oliva nas fatias de pão e em seguida cubra com o chocolate ralado. Leve então ao forno (À uns 200 graus) por cerca de 10 minutos, ou até as tartines estarem levemente crocantes e o chocolate estar já derretido. Se quiser, coloque mais azeite antes de servir, eu adoro. Um azeite bom nunca é demais. Prontinho! Simples e uma delícia! Aproveite-as!

Bon appétit!

O que é e de onde vem o Crème Brûleé? Comida e história!

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Crème Brûleé para os franceses, Crema Catalana para os espanhóis ou Leite-creme para os portugueses. Com qualquer nome ou em qualquer lugar do mundo, amo esse doce e toda delicadeza que ele me faz sentir – tem coisas que a gente come porque o gosto é bom, mas também porque a experiência de comer produz alguma sensação valiosa, delicada, boa. Fazer e comer crème brûlée me transporta para um estado de apreciação do belo através de algo simples. Vou explicar melhor.

A primeira referência história sobre essa sobremesa foi encontrada no livro Nouveau cuisinier royal et bourgeois, do francês François Massialot, publicado em 1691. Brulée designa um termo para “tostado”, o que é a característica principal desse doce – que tem aquela casquinha caramelizada por cima. Há uma curiosidade: “brûlée” é um termo também usado para referir-se à pessoa de alto poder aquisitivo e esnobe, a expressão foi extraída do nome da sobremesa crème brûlée, por ela, na França, ter sido uma sobremesa elitizada durante muito tempo.

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No filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulin, de Jean-Pierre Jeunet, existe uma referência muito famosa à essa sobremesa, que ajudou ela a se popularizar no mundo todo. Na poesia do filme é dito que o ato de quebrar com uma colher a casquinha do créme brûlée pode produzir um prazer simples, delicado, que te ajuda a extrair poesia da simplicidade de seu cotidiano. Acho isso tão lindo, evoca coisas tão sérias sobre conseguir extrair dos atos simples marcas boas, que nos alimentem… Enfim, o filme em si é lindo e tem muito sobre essa poesia do simples, e responsabilizo ele em grande parte por esse meu amor ao crème brûlée.

A origem da sobremesa é controversa e suspeita: franceses, espanhóis e ingleses disputam sua origem. Na Grã-Bretanha, existe uma referência, de 1879, ao Trinity Cream ou Cambridge burnt cream. No Trinity College, Cambridge, o símbolo da universidade era marcado, com um ferro quente, sobre o açúcar da cobertura. Mas os franceses, como mencionei acima, tem registros anteriores a esse, então por hora a honra é deles.

Ovos, leite, baunilha e açúcar – basicamente ele é feito disso. Há vários modos de fazer a casquinha linda e marcante de cima, o maçarico é a forma mais comum hoje, mas alguns lugares colocam bebida alcoólica por cima e botam fogo, para uma caramelização meio com cara de espetáculo. E também tem o modo mais antigo, de fazer a casquinha com ferro quente (meu jeito preferido, na verdade).

Adoro a história e narrativas possíveis de qualquer alimento. Há traços em tudo que comemos que contam histórias, poesias, hábitos… Comida é assim. Agora se você ficou com vontade clique aqui e veja como fazer creme brulee! Eu ensino, e você nem precisa ter maçarico culinário! Vem que tem!

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Muffins de Croque-madame da Rachel Khoo!

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Rachel Khoo é uma linda (principalmente quando usa aquele batom vermelhíssimo ♥)! Eu amo as receitas e o modo como ela lida com a culinária francesa. É uma britânica que estudou e trabalhou com moda na Inglaterra, porém sua paixão por confeitaria a fez se render a gastronomia. Largou tudo e foi morar em Paris, estudou na lendária Le Cordon Bleu e hoje é uma sensacional e inspiradora chef! Seu programa (que virou livro) “A pequena cozinha em Paris” é sensacional e oferece muitos modos de mergulhar na culinária francesa. Bom, depois de toda essa referência, ficará ainda mais inspirador se aventurar em uma de suas mais famosas receitas: Muffins de Croque-madame. Aqui no blog já vimos a receita do croque-monsieur – o famoso sanduíche francês! Para ter um Croque-madame basta colocar um ovo por cima do croque-monsieur. Para que essa gracinha tenha um aspecto de muffin, Rachel o faz de um modo diferente, confira abaixo!

Ingredientes:

  • 1 receita de molho mornay (O molho mornay você obtém misturando de 50g à 100g de queijo gruyère ou parmesão ralado e uma pitada de cravo em pó (o cravo é opcional) à uma receita de molho bechamel – acrescente o queijo durante o preparo do bechamel, 1 minuto antes de desligar a panela – (Clique aqui para ver como fazer uma receita de molho bechamel)
  • 6 fatias de pão de forma sem a casca (se o pão de forma for grande é melhor!)
  • Manteiga amolecida para passar nas fatias de pão (o suficiente)
  • 6 fatias de presunto
  • 6 ovos inteiros
  • Um pouco de queijo parmesão ou gruyère para colocar por cima (opcional).
  • Você precisará de uma forma para muffins ou cupcakes.

Essa quantidade é para o preparo de 6 muffins.

Modo de preparo:

A primeira coisa à fazer é deixar seu molho mornay pronto (veja as instruções a cima que explicam isso). Estando o molho pronto, é hora de preparar as fatias de pão. Você precisa achatar as fatias de pão com um rolo, amassando elas, para que fiquem assim:

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Pincele um pouco de manteiga nos dois lados das fatias de pão. Agora você colocará as fatias de pão nos buracos da forma de muffin (ou cupcake), fazendo o pão ficar num formato de copo (observe como na imagem abaixo). Pré aqueça seu forno à 190 graus, então faça a montagem na seguinte ordem: Coloque o presunto, depois o ovo (atenção, se o ovo for muito grande e você notar que irá transbordar, retiro um pouco da clara!), coloque uma pitadinha de sal e pimenta do reino sobre o ovo à gosto. Então coloque de 1 colher e meia à 2 colheres de molho mornay sobre o ovo (vá dosando as colheradas de molho por igual sobre os  6 muffins, para que nenhum fique sem molho), e por último polvilhe queijo por cima. Observe na imagem esse passo a passo:

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Então leve os muffins ao forno por cerca de 15 à 20 minutos (o tempo na verdade depende do ponto em que você gosta dos seus ovos, então vá verificando com um garfinho!). Prontinho gente, essa gracinha francesa está pronta! Sirva imediatamente e seja muito feliz!

A cara deles assim que saem do forno!

A cara deles assim que saem do forno!

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Des Deux Moulins – O Café da Amélie Poulain e um passeio por Montmartre (Paris).

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Fachada do Des Deux Moulins

Parada obrigatória em Paris para quem, assim como eu, ama o filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain), pois trata-se justamente do café em que Amélie trabalha no filme:  Des Deux Moulins (Sim, ele existe!). Para quem se encantou com a poesia desse filme (que ficou bem famoso mundo a fora) é uma experiência que agita o coração entrar no lugar e conseguir identificar todo o cenário daquela história carregada de poesia e detalhes “doces”. Eu adoro o filme e toda a “poesia do simples” que ele evoca, e estar lá foi sensacional. É um lugar indispensável de visitar para aqueles que sabem “que até mesmo as alcachofras tem coração…”

O Café fica bem perto de dois moinhos: O Famoso Moulin Rouge e o Moulin de la Galette, daí o nome: Des Deux Moulins (Os dois moinhos). É um lugar na maioria das vezes cheio, pois é bem famoso e muitos turistas de todo canto se espremem nas pequenas mesas do café. Mas o lugar, além de todo o encanto que traz do filme, é agradável e fofo, os garçons são gentis (e lindos, diga-se de passagem), fui atendido por um que falava português (sorrindo, vejam vocês), o que facilitou o pedido.

Interior do Café, onde se pode ver Amélie sorrindo ali atrás...

Interior do Café.

Há objetos usados no filme que ficam expostos no café. Quanto ao cardápio, eu fui direto em um “combo” que é um café (ou um chocolate quente) que acompanha o famoso Crème Brûlée, pois eu jamais poderia perder a experiência de quebrar a casquinha dessa linda e simbólica sobremesa e sentir a felicidade discreta que tal ato produz. E isso tudo custou cerca de 14 euros (preços em 2017). O preço lá não é muito barato, mas com 14 euros você já sente a magia da Amélie, e tá bom).

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Não comi outras coisas, mas dizem que há lugares melhores ali por perto mesmo em Montmartre, onde se pode experimentar melhores e tradicionais pratos franceses. Mas o que me interessava lá era Amélie, a magia conectada à essa obra e o Crème Brûlée, e foi isso que fiz, e saí bem feliz! AH, perto do banheiro há uma mini exposição (na verdade, um balcão) com objetos originais usados no filme, veja e chore de emoção, que nem eu!

Endereço: 15 Rue Lepic, 75018 Paris, França – Site: http://cafedesdeuxmoulins.fr/pt

Dicas: Aproveite para visitar outros endereços ilustres que também ficam em Montmartre, nas redondezas do café da Amélie: A Basílica de Sacré Coeur (também cenário do filme) é linda e gigante, o gramado nos entornos das escadarias são perfeitos para sentar, comer algo e ver a vista linda de Paris (fica numa região alta então a vista é emocionante). Dica: Cuidado com os vendedores ambulantes, eles podem ser meio agressivos, digo, insistentes, colocam as pulseirinhas no seu braço como se fossem presentes e daí cobram, então a dica é: se não estiver afim de comprar, feche a cara um pouco e siga dizendo um “merci” sem parar para dar atenção. O Moulin Rouge também está ali pertinho, a noite ele é muito mais lindo que de dia (com as luzes vermelhas deslumbrantes). Por ali você também pode ver a fachada da casa onde morou o pintor Vicent Van Gogh, fica bem perto do Moulin Rouge. A Place Du Tertre fica quase ao lado da Basílica, uma praça famosa pelos artistas pintando a céu aberto e restaurantes fofos ao redor, e lá também é um ótimo endereço para comprar aqueles famosos pôsteres da Belle Époque de Paris! Olhem só:

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A Place Du Tertre – Com seus charmosos restaurantes e artistas pintando à céu aberto.

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A incrível Basílica de Sacré Coeur, também bastante presente nos cenários do filme.

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o Simbólico Moulin Rouge! Fica bem pertinho do Café.

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A fachada da casa onde morou o famoso artista Vincent Van Gogh, 54 Rue Lepic.

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Uma charmosa rua perto da Basílica de Sacré Coeur, onde se pode encontrar os famosos posteres da Belle Époque e uma série de artigos para lembrancinhas.

Montmartre é um bairro lindo e cheio de história, todos os movimentos artísticos históricos que tiveram Paris como palco ocuparam muito esse bairro, então a marca artística e boêmia da região perdura até hoje. Aproveite!

Como fazer Ratatouille – O colorido provençal

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Uma mistura de vegetais que tem frescor, certa cremosidade e muita cor. Ratatouille é assim. Existem muitas variações e receitas, inclusive é difícil achar um jeito padrão de fazer ou receita original, visto que até na França há muitas controversas no preparo do Ratatouille. É o tipo de prato que sempre da para colocar um pouco da sua identidade ao fazer – e isso pode ser bem legal para nos conectarmos com maneiras mais intuitivas de cozinhar. Essa receita é uma bem próxima do que seria a “original” do Ratatouille, com os principais ingredientes e sem adições. Eu amo tanto o gosto dele, um tom doce dançando no tom dos legumes… bem lindo de sentir.

Ingredientes:

  • Alho esmagadinho (cerca de 1 dente)
  • 1 cebola bem picada (em cubos pequenos)
  • 1 berinjela cortada em fatias finas (você pode usar um fatiador para fazer isso).
  • 1 abobrinha cortada em fatias finas (que nem a berinjela)
  • 1 pimentão vermelho sem sementes cortado em fatias finas
  • 1 pimentão amarelo sem sementes também cortado em fatias finas.
  • 6 tomates cortados em pedaços grandes (em cerca de 4 pedaços cada tomate). Se seus tomates forem muito grandes pode por uns 4 ou 5 só.
  • 2 colheres de sopa (não muito cheias) de açúcar.
  • Sal a gosto
  • Azeite (quantidade também a gosto, mas sem exageros!)
  • 1 ramo de tomilho (se preferir pode usar folha de louro).

10915318_1604023589830259_5308485942459437235_nFoto antiga que lembra coisas de uma cozinha de outras horas, que eu não quero nunca esquecer

Modo de preparo:

A primeira coisa é cortar os legumes, e o corte é uma parte importante do Ratatouile. Para um resultado bem bonitinho e satisfatório siga a orientação “fatias finas” que indiquei nos ingredientes. Corte tudo antes de começar o cozimento.

Os legumes cortados.

Os legumes cortados.

Pré-aqueça seu forno à 200 graus. Refoque a cebola, o alho e o tomilho (ou as folhas de louro) em um pouco de azeite. Em seguida acrescente nessa refoga a berinjela, e cozinhe até ela ficar macia (mas sem deixar amolecer muito), cerca de 6 minutos. Então desligue o fogo.

Coloque todos os outros legumes em uma forma, e junte a berinjela cozida. Coloque um pouco de sal (à gosto), regue com um pouco de azeite. Cubra a forma com papel alumínio e leve ao forno por cerca de 1 hora.

Legumes organizados na forma antes de assar.

Legumes na forma antes de assar.

Depois retire do forno, tire o papel alumínio e descarte, mexa os legumes um pouco, verifique o sal e acerte se for necessário. Salpique o açúcar por cima e então coloque novamente no forno, com o grill ligado, e deixe por mais uns 8 minutos (até ver pequenas partes dos legumes grelhando). Retire então do forno e acrescente mais um pouquinho de azeite. Pronto, gente! Simples assim. Sirva quente (há quem goste de frio, eu prefiro quente!). Bon appétit!

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