A gastronomia tem se tornado cada vez mais objeto de desejo e consumo. O glamour, chefs estrelados, restaurantes badalados e todo viés econômico em volta disso tem construído uma ideia de exuberância em volta da gastronomia. Entretanto, há algumas coisas que precisam ser lembradas sobre o que significa cozinhar – para além de todo esse glamour, existe algo muito importante nesse ato que nos acompanha desde a origem das civilizações. Cozinhar é uma entrega que fazemos ao outro, é uma construção que nos conecta as pessoas, contorna inúmeras relações e mostra o valor do coletivo. O filme francês Le Chef é divertido, traz toda a riqueza da cozinha francesa e também traz recados muito importantes.
Ele conta 2 histórias: a de um cozinheiro amador buscando um lugar profissional e a de um chef francês estrelado. Contornando a história desses dois o filme mostra o quanto o espetáculo e glamour pode distanciar cozinheiros de coisas valiosas que a cozinha oferece. Quando um chef estrelado se lembra de ser cozinheiro e se conecta com a verdadeira essência da cozinha, algo especial acontece. O filme nos lembra do ato de amor, doação e generosidade que envolve a cozinha quando cozinhamos para o outro e com o outro, e não apenas para nosso prazer pessoal e vaidade – tanto na cozinha caseira, quando cozinhamos para quem amamos lhes oferecemos algo construído pelas nossas mãos, quanto na cozinha profissional, quando cozinhamos ao lado de uma equipe, fazendo no coletivo um trabalho que afeta a vida de todos ali, do local onde o restaurante está, dos fornecedores de ingredientes e das pessoas que irão comer. Há uma conexão gigante na cozinha entre muitas pessoas. Estão todos juntos.
A cozinha é um ato coletivo e generoso se assim a enxergamos e nela atuarmos. Talvez o mais tocante do filme seja como ele mostra um chef estrelado saindo de sua individualidade e compreendendo que a essência real da cozinha não é apenas cozinhar para nosso prazer e vaidade, mas sim lembrar de todo esse coletivo que ela é e o tanto de gente que ela afeta, se reconectando assim com a via mais genuína desse trabalho.
Contando as aventuras do cozinheiro amador Jacky Bonnot para conseguir um lugar profissional, onde pudesse dar vazão a sua via criativa, o filme traz todo esse tema importante, de forma divertida e deliciosa – nos fazendo navegar no mundo gastronômico fascinante que a França tem. Quando a história de Jacky topa com a história do estrelado chef Alexandre Lagarde, ambos começam uma relação que transforma suas vidas para sempre, os fazendo repensar suas práticas e o sentido que a cozinha tem para ambos. Super indicado! O filme até a data de hoje (02/07/2017) está disponível na Netflix! Vale muito apena. Aproveite e bon appétit!