O alface crescendo na minha horta, no quintal de casa, que observo todo dia da janela do meu quarto. Poucas coisas são tão valiosas quanto ver seu alimento crescer, em uma terra honesta, limpa, que produz um alimento honesto, real e limpo. A terra da minha horta é simbólica, ela é cuidada e tem a marca de muitas mãos generosas e carinhosas – não cuido dela sozinho. Nessa terra está escrito o conhecimento e afeto que minha família tem por terra e mato, está nela nosso apego à natureza que pra gente é uma espécie de oração. Acreditamos no poder e amor infinido que vem da terra, acreditamos muito. A horta do meu quintal produz alimentos que compartilhamos, com familiares e vizinhos, não nos custa compartilhar e o coletivo é sempre gratificante e belo. Já pensou em ver sua comida crescer e acompanhar a engenhosidade emocionante da natureza no seu quintal? Ou já pensou em comprar comida com esse selo de qualidade (limpa, de terra e mãos honestas e amorosas)? Já pensou em fazer com seus vizinhos uma horta coletiva num cantinho qualquer? O que chamamos de alimento orgânico tem uma história muito importante e linda por trás. O que seu corpo recebe, o que vai para a mesa da sua família, os hábitos sociais e comunitários que você pode construir através da comida – muito está a seu alcance fazer e transformar. Repense, reescolha, produza diversas marcas boas enquanto se alimenta. Plantar o meu alface me traz uma refeição linda, viva e saudável, mas também me traz emoções bonitas, contatos com a natureza (e um maior respeito à ela), me traz a chance de compartilhar, me traz iluminação, me traz o Deus que acredito e vejo no natural do mundo (na terra…), me traz uma lição sobre o tempo das coisas e me faz pensar no que compõe minhas escolhas. Comer é um ato social e psicológico, há muito dentro disso. Pensem. Sou tão grato ao pé de alface que cresce na terra do meu quintal e ajuda a crescer em mim hábitos bons, vivos, plenos. A fertilidade do bom. Da terra pra dentro de mim, de dentro de mim para os outros. Todos nós. Plante alguma coisa para comer alguma vez na vida.
Alimentos orgânicos
Fazenda produz apenas alimentos orgânicos e contrata somente moradores de rua – atuação em simultâneas feridas sociais.

A fazenda de produção de alimentos orgânicos contrata apenas moradores de rua – destaque as cenouras visivelmente orgânicas, com formas diversas, não padronizadas, naturais, como o mundo as oferece – lindas. Foto: Reprodução.
Produção orgânica de alimentos já é por si só um serviço social se considerarmos que isso transforma a qualidade do que as pessoas comem. Incrível ver isso aliado à outras problemáticas sociais. A Verde Community Farm & Market, que produz apenas alimentos orgânicos, contrata apenas moradores de rua, gerando uma chance de lugar social à pessoas sem oportunidades – fazendo isso ela atua simultaneamente em várias feridas sociais. Um trabalho incrível, lúcido e inteligente.
A fazenda fica em Miami, nasceu em 2008 e já ajudou mais de 10 mil pessoas. Hoje é a fonte de sustento de mais de 145 famílias. A instituição oferece um suporte completo aos funcionários contratados, que inclui moradia – acolhem toda a realidade do morador de rua. O trabalho é amplo e bem pensado, eles destinam os investimentos à treinamentos que tornam os funcionários aptos a lidar com a produção de alimentos orgânicos, também direcionam os investimentos à infraestrutura da fazenda.
A fazenda fornece para população e restaurantes locais, e está aberta a visitação de qualquer pessoa. A produção orgânica de alimentos é uma das ações mais importantes e urgentes de nosso tempo. Além de gerar a possibilidade mais limpa e saudável de alimentação, é um retorno ao contato real com a natureza, uma saída das nossas idealizações patológicas e dificuldades de lidar com os ciclos naturais. Esse tipo de produção também está conectada à possibilidades econômicas mais justas – pequenos produtores locais poderiam fornecer de forma acessível alimentos de qualidade as suas localidades, o que ainda por cima movimentaria interessantes possibilidades econômicas regionais, que viriam a ser a saída de muitas famílias para produzir sustento, e proporcionaria ao mesmo tempo menos consumo de comida industrializada ou alterada quimicamente – ganhos de muitos lados. Claro que, por interesses econômicos de grandes corporações, esses caminhos enfrentam muitos obstáculos – principalmente políticos. Mas dentro das nossas possibilidades, dentro de nossas escolhas cotidianas, podemos já fazer algo que movimento esse ciclo. Qual feira orgânica você conhece? Qual pequeno produtor você ajuda escolhendo comprar algo dele? Repare no que está ao seu alcance.
Ao escolhermos alimentos orgânicos, de pequenos produtores, realizamos um ato social. O que escolhemos comprar gera a dinâmica do que continuará sendo ofertado. Nossas escolhas, a longo prazo, irão reverter o que é barato, o que é caro, o que os mercados oferecem em suas prateleiras, e qual tipo de comida será acessível e possível as pessoas. Um grande tema, com tantos caminhos para amadurecer e construir. Já tem muita gente fazendo um trabalho com esse olhar, e a Verde Community Farm & Market é um exemplo bem legal disso.
Conheça mais sobre o projeto clicando aqui – Verde Community Farm & Market
Fonte: Catraca Livre