Cozinhei as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de Paola Carosella. Finalização do projeto “Gratidão de todas as sextas”.

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Finalizei o projeto “Gratidão de todas as sextas”. Cozinhei as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de Paola Carosella. Me comprometi, no dia 11/11/2016 (clique aqui e veja como tudo começou) a cozinhar todas as receitas e ir postando (no meu blog e Instagram) toda sexta-feira o resultado daquilo que foi feito na semana, e assim foi.  Estou aqui pensando em como, em um texto de finalização, significar e registrar tudo que esse projeto foi, daí me ocorre que faz sentido começar esse texto falando do fim do projeto, da receita 94/94: O Pão Arturito – Eu levei 15 dias e 17 horas para fazer essa receita (o pão, em muitos sentidos, é o senhor do tempo), e quando acabei consegui firmemente compreender a maior lição do livro: O valor do tempo. É isso. É sobre isso que o livro é: Tempo, vida e cozinha – porque foi uma COZINHEIRA (em caps, para ser verossímel) que escreveu sobre tempo e vida, e ela fez isso através da cozinha.

O livro “Todas as sextas” é o primeiro livro de Paola Carosella. Ele é composto de um relato autobiográfico profundo e de 94 receitas – cada uma delas trazendo uma reflexão e uma conexão com a história da cozinheira. Não é um livro culinário qualquer.  As receitas nos fazem questionar nossas escolhas e hábitos, nos incomodam e nos movimentam. Para prepará-las tudo começava com a busca pelos ingredientes,  e essa era uma etapa muito séria, porque Paola no livro é convicta ao falar da importância dos ingredientes – tinham que ser ovos de galinha de vida digna, carnes de animais que também tiveram vidas dignas, frutas e legumes plantados e cuidados por pessoas que fazem do jeito honesto o que fazem, farinhas vendidas por pessoas que tenham “olhos de pessoas do bem”, confiáveis – e eu não estava afim de contrariar as indicações, eu queria fazer direito para aprender de verdade o que estava ali sendo dito, então foram muitas caminhadas por São Paulo para encontrar os ingredientes certos. Após ter encontrado tudo para cada receita, na hora de cozinhar eu tinha que escolher uma panela que eu tivesse carinho (afeto importa), tinha que tratar os ingredientes respeitando seu tempo de descanso (alguns precisavam de 1 hora, outros de 24 horas, outros de 15 dias). Eu também tinha que entender o valor do fogo baixo e do tempo lento de cozimento, nada de pressa e pressão. Para servir o prato, tinha que ser também numa louça bonita – eu tinha que ser atencioso e gentil com a refeição, a cada instante – e comer tudo isso no final era quase sempre uma oração, uma recompensa e reflexão profunda do que implicava todo o processo – e do que ia sendo transformado em mim enquanto eu transformava ingredientes desse jeito.

Cozinhar desse jeito muda a gente, não tem como sair igualzinho. Para fazer tudo isso antes de qualquer coisa eu tive que “parar” – frear a velocidade desse mundo rápido e agressivo que vivemos para experimentar, através das receitas, uma outra experiência de tempo – um tempo lento, que corre diferente, que precisa respeitar o tempo dos processos naturais, um tempo que me fez pensar em como eu estava usando e experimentando o próprio tempo da minha existência. A verdade é que eu entendi mais do que nunca o quanto perdemos por causa da nossa pressa, da nossa incompreensão das coisas e do tempo que elas precisam levar para ficarem prontas. Cozinhando assim, eu tive então “tempo” de pensar na minha relação com a natureza quando escolhia ingredientes e quando os tratava de determinado modo, tive tempo de compreender o que de bonito acontece quando esperamos, tive tempo de me acalmar depois de dias complicados enquanto estava ali, cortando uma cebola, por exemplo.  Tive tempo de pensar no quanto minhas escolhas impactam o mundo que eu habito. Tive tempo de pensar nos meus afetos e elaborá-los, enquanto construía uma refeição com minhas mãos. Tive tempo, inclusive, de me lembrar do quanto a cozinha é simbólica na minha vida e é, há tantos anos, o meu divã – lugar onde eu sempre pude me encontrar em paz comigo mesmo.

O livro fala muitas vezes da importância de fazer artesanalmente – com as nossas mãos – aquilo que vamos comer. Eu acredito de verdade que existe uma via terapêutica em fazer artesanalmente algo que normalmente compramos pronto no mercado. É uma via que te permite autonomia e apropriação de um processo que normalmente você deixa que façam por você. Isso também é transformador, existe uma auto-realização grande em terminar uma refeição e falar no final: Eu que fiz, cada detalhe, do inicio ao fim, eu construí e transformei isso, estou implicado na coisa. A gente registra no nosso psiquismo coisas muito importantes quando nos vemos implicados nas coisas.

Fazer as receitas do modo como Paola conta também me permitiu pensar em tantos aspectos sociais, no modo como temos tratado o mundo e como temos nos relacionado com as pessoas. Quando escolho comprar de um pequeno produtor o que meu dinheiro incentiva? Quando escolho alimentos orgânicos o que ajudo a manter com meu ato? Há muito a se pensar, comer é um ato político e nossas escolhas conduzem o lugar social das coisas. Temos mais poder do que pensamos. O livro “Todas as sextas” também é um alerta, sutil e gentil, mas um alerta.

Quando comecei o projeto, estava envolvido por um sentimento muito forte de gratidão. Ao ler o inicio do livro, que é composto de um relato autobiográfico de Paola, muitas coisas na minha história foram tocadas. O mais legal de admirar pessoas é em algum momento notar o que essas pessoas que admiramos podem nos revelar de nós a nós mesmos – se conduzirmos de uma forma boa, admirar alguém é algo que revela algo muito importante sobre nós,  algo que muitas vezes não reconhecemos como nosso, mas que é. O outro ajuda a gente a notar. No meio desse insight e gratidão por Paola ter feito uma obra tão generosa e honesta, eu quis cozinhar o livro inteiro. Era para agradecer, para aprender, para ter um propósito novo. Hoje sei que era mesmo preciso cozinhar o livro todo, porque era preciso que eu me encontrasse com tudo isso. Me sinto mais convicto em relação ao modo como escrevo, com cozinho e até como faço meu trabalho como psicólogo – pude pensar em tudo que a cozinha, de um jeito metafórico e profundo, me faz pensar – porque quando a gente entende melhor o valor do tempo, tudo muda.

O projeto “Gratidão de todas as sextas” nasceu de um encontro – do meu com o livro. Mas ele gerou muitos outros encontros. Através do meu Instagram, milhares de pessoas acompanharam as postagens e compartilharam comigo o que sentiam com elas. A troca de narrativas que o projeto gerou e o alcance que ele teve me surpreendeu e me emocionou muito. Então tudo começou a ser algo maior e com mais sentido, onde quem ia acompanhando ia se transformando junto comigo, repensando sua relação com a comida e com o tempo. O projeto foi feito de encontros que deixaram muitas marcas. Pensar nisso me emociona muito, vai pra sempre emocionar.

Existe sim uma semelhança nesse projeto com o que Julie Powell fez com o livro de receitas de Julia Child – Vemos essa história no livro e filme Julie & Julia, que conta como Julie decidiu cozinhar as 524 receitas do livro de Julia em 365 dias. Essa história também me inspira, porque assim como Julie eu também fui salvo de uma vida um pouco triste e sem cor quando decidi que precisava cozinhar e escrever (quando o blog nasceu, aliás). Mas aqui, Paola foi minha Julia e “Todas as sextas” foi meu “Mastering the Art of French Cooking”.

Enfim, é isso. Acabou as 94. Algumas acertei muito que pulei de emoção, outras errei bastante. Todas me ensinaram muito. Eu tenho tanta coisa ainda pra dizer desse projeto, mas acho que isso não se encerra nunca, não cabe num texto, cabe dentro de mim e da bagagem que levo agora. Eu tive sucesso no projeto – mas um conceito diferente de sucesso. No mundo onde tempo é dinheiro, sucesso tem a ver com velocidade, rapidez, lucro em menos tempo e etc – e esse tipo de “sucesso” pode ser um slogan aniquilador e vazio. O sucesso que eu tive no projeto veio da calma e do tempo que corre diferente, veio das caminhadas longas por São Paulo buscando ingredientes, veio das tardes calmas esperando a panela cozinhar durante horas, do tempo que eu tinha enquanto esperava perto da panela e podia pensar nas coisas da vida, veio da emoção de compartilhar, veio da alegria de sentar e comer na mesa todas as receitas com alguém que eu amava. O sucesso veio de parar, respirar fundo, fazer, depois apreciar, e guardar pra sempre. O nome dessa história é gratidão. Como em todos os dias em que cozinhei cada uma das receitas, hoje eu só queria agradecer.

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Olhando na categoria do blog chamada “Gratidão de todas as sextas” você encontra todas as postagens, de cada uma das receitas. No meu Instagram também (@rodrigo.vilasboas) tem tudo lá. Também é possível encontrar os posts na hashtag #gratidaodetodasassextas .

 

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Gatidão de todas as sextas. Cozinhando as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de Paola Carosella. Receita 94/94: Pão Arturito. Finalizando com ele, o senhor do tempo.

​Emoção profunda. A última receita pronta do projeto “Gratidão de todas as sextas” – Cozinhar todas as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de @paolacarosella . Receita 94/94: Pão Arturito. Eu poderia te dizer que o pão começou quando eu fui atrás de uma maçã orgânica para fermentar, em uma caminhada bonita por São Paulo, mas não. Na verdade o pão começou a ser feito na receita 1/94, quando eu comecei a compreender a coisa mais importante do livro “Todas as sextas”: Uma lição profunda sobre o valor do tempo e sobre nossa relação com a generosa força natural do mundo. As 93 receitas anteriores me capacitaram para entender a beleza profunda de ver uma maçã sendo transformada em pão pela força natural da fermentação. Fazer o pão foi simbólico, foi apreciar a riqueza do tempo que corre lento. É absolutamente lindo ver o que acontece quando respeitamos o tempo que as coisas precisam durar. Você entende? Isso é um bálsamo diante de um mundo de velocidade tão violenta onde ninguém tem mais tempo de parar, notar, sentir e compreender nada. Fazer pão de fermentação natural é uma chance de sair dessa violência. Foram 7 dias esperando a fruta fermentar, depois 7 dias alimentando a massa madre, depois mais 17 horas para fazer o pão. O Pão Arturito é a alma do livro, que revela uma verdade profunda, aquela que te esconderam quando te contaram que “tempo é dinheiro”, porque na real, o tempo é o tecido de nossas vidas – Fazer algo que leva tanto tempo te faz entender isso. E ah, o pão não ficou perfeito, mas ficou muito bom. Farei mais imperfeitos até chegar no perfeito. Esse projeto teve um porque inicial (clique aqui e leia o post feito dia 11/11/16, expliquei lá), mas esse porque cresceu e me transformou. Também atingiu tanta gente que o acompanhou por aqui e somou sua emoção dando mais sentido a tudo. Vou escrever um texto de finalização e postar em breve para pensar, significar tudo, e é claro, agradecer. Em breve posto. Será o último post do projeto. Se quiser ver todas as receitas, só ir na #gratidaodetodasassextas no Instagram ou na categoria aqui do blog chamada “Gratidão de todas as sextas” ,tem uma história profunda lá. Hoje eu só queria agradecer. #paoarturito

Gratidão de todas as sextas. Cozinhando as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de Paola Carosella. Mais um capítulo do Pão Arturito.

​A massa madre para o Pão Arturito está pronta. Agora farei o levain e então, finalmente, o pão. Após fermentar uma fruta orgânica e bonita por 7 dias eu alimentei a massa madre durante mais 7 dias, 3 vezes por dia, em horários iguais. Não existe um jeito de fazer isso sem pegar um amor profundo pelo processo. Cheguei alguns dias em casa cansado, outros correndo quase atrasado para alimentar no horário certo, alguns dias morto e cheio de glitter depois de algum bloco de carnaval, mas alimentar a massa era um compromisso sério e bom, alimentei ela muitas vezes antes de me alimentar (quando cheguei com fome em casa). É uma dedicação grande. Mas o que eu digo para vocês, senhores, é que alimentar a massa na verdade me alimentou – de um tipo de alimento que tem a ver com coisas da existência, entendem? Isso é um grande presente que eu não tenho como retribuir, por isso eu agradeço. Eu to bem emocionado, às vezes com medo do pão dar errado, mas aí penso que se der errado, coisas muito bonitas durante o processo de fazer já deram certo (aprender e sentir algo enquanto faz é tão importante quanto o resultado, se não mais). Mas enfim, vamos ver, e esperar. Se quiser ver mais sobre as etapas anteriores do pão e do projeto gratidão de todas as sextas, só olhar na hashtag no Instagram #gratidaodetodasassextas , tem tudo lá. Também na categoria do blog chamada “Gratidão de todas as sextas”, tem tudo. #paoarturito

Gratidão de todas as sextas. Cozinhando as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de Paola Carosella. Continuando a última receita: O pão. 

​Sexta-feira passada não postei algo do projeto gratidão de todas as sextas (Cozinhando as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de @paolacarosella ) porque só hoje foi possível seguir a próxima etapa da receita 94/94 que está em processo – O pão Arturito. Não pôde ser na sexta porque o tempo do pão não é o meu tempo programado, mas sim o tempo natural dele – e como temos visto, é ruim não respeitar o tempo que algo precisa para ficar realmente pronto. Nossa pressa é resultado da nossa incompreensão das coisas, esse projeto só tem sentido se eu respeitar o tempo, então atrasos fazem parte. Enfim. Enquanto eu estiver fazendo o pão vou compartilhando aqui com vocês a emoção de cada etapa – Hoje a água de fruta ficou pronta, depois de 5 dias, então comecei a fazer a massa madre. Vou alimentar essa massa durante 7 dias. É um cuidado intenso, que mexe com a gente. A generosidade do mundo natural mexe comigo. Vamos fazendo e sentindo esse pão. Compartilho pra tentar que sintam um pouco junto comigo. Se quiserem ver o post da primeira etapa do pão e todas as outras receitas do projeto Gratidão de todas as sextas é só ir na #gratidaodetodasassextas no Instagram ou olhar a categoria aqui do blog chamada “Gratidão de todas as sextas”.

Gratidão de todas as sextas. Cozinhando as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de Paola Carosella. Iniciando a última e simbólica receita: O pão arturito – o senhor do tempo. 

Hoje eu fui atrás de maçãs, queria encontrar maçãs significativas porque elas não são para uma coisa qualquer – São para a receita 94/94 do projeto “Gratidão de todas as sextas”, aquele que me comprometi a cozinhar as 94 receitas do livro “Todas as sextas” de @paolacarosella . Vou encerrar com essa receita de propósito. É o pão porque o pão é o senhor do tempo, e o livro é sobre comida, afeto e tempo. O projeto tem sido uma das experiências mais profundas de tempo que tive. Eu sabia que não ia sair igual dele, mas não achei que era tanto. Achei essas maçãs orgânicas, honestas, diferentes umas das outras, de verdade e lindas na @solliorganicos , então comecei a fazer a água de fruta – o primeiro processo do pão de fermentação natural. O pão começou a nascer hoje em uma caminhada bonita por São Paulo enquanto eu ia atrás das maçãs. Agora uma delas está fermentando na água, e o pão está a caminho. Acompanhem. E se quiserem ver as outras 93 receitas que já fiz do livro (coração chega a pular quando escrevo isso), é só olhar na hashtag do projeto #gratidaodetodasassextas no Instagram  ou dar uma olhada na categoria aqui do blog chamada “Gratidão de todas as sextas”, tem toda uma história lá. Enfim. Só queria dizer que o pão começou, e agradecer. A foto linda do pão do livro, do @emperorofhoxton , diz muito, como todas as outras imagens do livro dizem profundamente muito. O pão pronto na imagem e as maçãs que achei hoje – os dois lados extremos do processo de criação natural do pão. Essa foto é simbólica, espero que entendam.

Gratidão de todas as sextas. Cozinhando as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de Paola Carosella. Receita 92/94: Massa para nero di seppia. Receita 93/94: Nero di seppia com lagostins frescos. 

Sexta-feira, dia do projeto “Gratidão de todas as sextas” – Cozinhar todas as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de @paolacarosella (Esse projeto tem um porque, clique aqui e leia o post que publiquei dia 11/11/16, explico lá tudo com todo meu coração). Receita 92/94: Massa para nero di seppia. Receita 93/94: Nero di seppia com lagostins frescos. Essa era uma receita que eu achava muito dificil no inicio do projeto, talvez por isso ela foi ficando para o final. Foi uma surpresa, ao fazer ela, ir notando minha maior familiaridade com os ingredientes que eu, ao longo do projeto, fui aprendendo a tratar melhor. Uma das coisas mais lindas do livro e linguagem da Paola é ensinar a gente a tratar os bichos melhor, as plantas melhor, as coisas da cozinha melhor. Eu acho que isso muda pra sempre nosso modo de comer. Eu digo meio que emocionado que a massa ficou uma delícia, o molho, que foi feito com o sabor da cabeça e carcaça do bicho ficou uma delícia emocionante (porque é simbólico extrair um sabor lindo daquilo que muitos acham que não serve). O lagostim ficou em um ponto respeitável. Estou tão feliz com esse prato e com o que ter conseguido fazer ele bem significa pra mim. É, meus caros, chegamos na receita 93/94. Falta só 1. O pão. Essa ficou por último de propósito. Porque o pão é milenarmente simbólico. O pão é o senhor do tempo. O livro “Todas as sextas” é uma grande lição sobre o valor do tempo – que não é dinheiro (te contaram essa mentira). O tempo é o tecido de nossas vidas.

Gratidão de todas as sextas. Cozinhando as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de Paola Carosella. Receita 91/94: Ceviche de Ostras. 

Sexta-feira, dia do projeto “Gratidão de todas as sextas” – Cozinhar todas as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de @paolacarosella (Esse projeto tem um porque, clique aqui e leia o post que publiquei dia 11/11/16, explico lá tudo com todo meu coração). Receita 91/94: Ceviche de ostras. Ontem tive a sorte de encontrar pessoas gentis que venderam com sorrisos ostras fresquinhas. Também tive a sorte de morar em uma cidade-mundo onde se encontra de tudo e de todos (São Paulo é um presente). Tive a sorte de ter alguém que amo tão profundamente para comer as ostras comigo. Tivemos a sorte de ter um vinho muito bom para acompanhar uma tarde calma e boa, de descanso e frescor, o mesmo frescor das ostras. Tive a sorte de Paola ensinar um modo tão sagrado e bom de comer ostras e temperá-las. Pensei também na sorte que tive de ter encontrado Paola de algum modo, de ter inciado esse projeto e de ter tido disposição e convicção para estar hoje na receita 91/94 e ter aprendido tanto. Se isso não for motivo de gratidão, senhores, eu não sei o que é.

Gratidão de todas as sextas. Cozinhando as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de Paola Carosella. Receita 90/94: Caldo de carne. 

​Sexta-feira, dia do projeto “Gratidão de todas as sextas” – Cozinhar todas as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de @paolacarosella (Esse projeto tem um porque, clique aqui e leia o post que publiquei dia 11/11/16, explico lá tudo com todo meu coração). Receita 90/94: Caldo de carne. Primeiro dourar no fogo as partes corretas do boi e os aromas da terra (os legumes), depois pegar tudo, já transformado pelo calor do fogo sagrado, e deixar cozinhando por 8 horas e meia – para o tempo fazer sua mágica, para o tempo extrair o melhor possível disso tudo. O cheiro e gosto complexo e intenso desse caldo é o cheiro e gosto do tempo. O tempo que as coisas levam e que não temos mais gostado de esperar, já que queremos tudo instantâneo. Foi profundamente emocionante fazer meu próprio caldo de carne, ver acontecer diante dos meus olhos o que genuinamente pode ser chamado de caldo de carne (e não qualquer coisa vendida por aí roubando esse nome sagrado). Nada faz você refletir tanto sobre o tempo quanto uma receita que precisa ficar quase 10 horas na panela, lentamente acontecendo. Eu estou transformado e esse caldo deixou uma marca forte em mim. Como não sentir uma vontade enorme de agradecer? Esse projeto tem me dado tanto… nem sei te contar. O tempo é mesmo o tecido de nossas vidas, ele não é dinheiro.

Gratidão de todas as sextas. Cozinhando as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de Paola Carosella. Receita 89/94: Peito de boi braseado da Isabel com farofa do Lucas e taioba.

Sexta-feira, dia do projeto “Gratidão de todas as sextas” – Cozinhar todas as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de @paolacarosella (Esse projeto tem um porque, clique aqui e leia o post que publiquei dia 11/11/16, explico lá tudo com todo meu coração). Receita 89/94: Peito de boi braseado da Isabel com farofa do Lucas e taioba. Esse prato é tão bonito. Primeiro porque ele é indiscutivelmente delicioso. Porque em seu nome e apresentação no livro Paola fala de encontros bons e generosos que a cozinha traz e simboliza, fala generosamente de pessoas que trabalham com ela – essa é uma receita coletiva, e isso é tão significativo. Quando eu comi pensei nas histórias cruzadas e enlaçadas por trás dessa farofa, dessa taioba, dessa carne amorosa feita em panela. Carne na panela. Acho que também vi tanta beleza nessa receita porque ela até agora foi a que mais me lembrou a comida da minha mãe. Minha mãe é uma cozinheira de panelas, pesadas, fundas, com caldos grossos e carnes intensas. É realmente um prato muito bom, muito significativo, muito generoso. Hoje eu só queria agradecer, mesmo.

Gratidão de todas as sextas. Cozinhando as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de Paola Carosella. Receita 87/94: Linguiça de porco. Receita 88/94: Gnocchi de ricota de búfala. 

Sexta-feira, dia do projeto “Gratidão de todas as sextas” – Cozinhar todas as 94 receitas do livro “Todas as sextas”, de @paolacarosella (Esse projeto tem um porque, clique aqui e leia o post que publiquei dia 11/11/16, explico lá tudo com todo meu coração). Receita 87/94: Linguiça de porco. Receita 88:94: Gnocchi de ricota de búfala. Foi uma longa caminhada para ir atrás da ricota de búfala mais fresca que eu pudesse achar. Achei uma bonita, não acho que era a mais fresca de São Paulo, mas achei boa. É interessante rodar São Paulo atrás de um ingrediente, enquanto eu andava atrás da ricota tive tempo de olhar os detalhes da cidade, de respirar direito, de pensar nos detalhes da receita, de sentir. Me desconectei de um ritmo intenso e me conectei com alguma sutileza da vida. Acho que eu gosto quando um ingrediente é dificil de achar e exige idas e vindas por São Paulo, afinal. Fazer a linguiça artesanal foi mágico – o perfume dessa linguiça linda, que temperei acariciando gentilmente, parece que perfumou diferente a própria vida. Fiz a linguiça, fiz o molho, fiz o gnocchi. Fiz uma noite alegre aqui em casa. Fiz uma memória para agradecer.