Crème Brûleé para os franceses, Crema Catalana para os espanhóis ou Leite-creme para os portugueses. Com qualquer nome ou em qualquer lugar do mundo, amo esse doce e toda delicadeza que ele me faz sentir – tem coisas que a gente come porque o gosto é bom, mas também porque a experiência de comer produz alguma sensação valiosa, delicada, boa. Fazer e comer crème brûlée me transporta para um estado de apreciação do belo através de algo simples. Vou explicar melhor.
A primeira referência história sobre essa sobremesa foi encontrada no livro Nouveau cuisinier royal et bourgeois, do francês François Massialot, publicado em 1691. Brulée designa um termo para “tostado”, o que é a característica principal desse doce – que tem aquela casquinha caramelizada por cima. Há uma curiosidade: “brûlée” é um termo também usado para referir-se à pessoa de alto poder aquisitivo e esnobe, a expressão foi extraída do nome da sobremesa crème brûlée, por ela, na França, ter sido uma sobremesa elitizada durante muito tempo.
No filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulin, de Jean-Pierre Jeunet, existe uma referência muito famosa à essa sobremesa, que ajudou ela a se popularizar no mundo todo. Na poesia do filme é dito que o ato de quebrar com uma colher a casquinha do créme brûlée pode produzir um prazer simples, delicado, que te ajuda a extrair poesia da simplicidade de seu cotidiano. Acho isso tão lindo, evoca coisas tão sérias sobre conseguir extrair dos atos simples marcas boas, que nos alimentem… Enfim, o filme em si é lindo e tem muito sobre essa poesia do simples, e responsabilizo ele em grande parte por esse meu amor ao crème brûlée.
A origem da sobremesa é controversa e suspeita: franceses, espanhóis e ingleses disputam sua origem. Na Grã-Bretanha, existe uma referência, de 1879, ao Trinity Cream ou Cambridge burnt cream. No Trinity College, Cambridge, o símbolo da universidade era marcado, com um ferro quente, sobre o açúcar da cobertura. Mas os franceses, como mencionei acima, tem registros anteriores a esse, então por hora a honra é deles.
Ovos, leite, baunilha e açúcar – basicamente ele é feito disso. Há vários modos de fazer a casquinha linda e marcante de cima, o maçarico é a forma mais comum hoje, mas alguns lugares colocam bebida alcoólica por cima e botam fogo, para uma caramelização meio com cara de espetáculo. E também tem o modo mais antigo, de fazer a casquinha com ferro quente (meu jeito preferido, na verdade).
Adoro a história e narrativas possíveis de qualquer alimento. Há traços em tudo que comemos que contam histórias, poesias, hábitos… Comida é assim. Agora se você ficou com vontade clique aqui e veja como fazer creme brulee! Eu ensino, e você nem precisa ter maçarico culinário! Vem que tem!
Na Catalunha, a sobremesa é chamada de crema catalana e foi documentada pela primeira vez num receituário catalão medieval, em 1324.
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Que interessante as tantas localidades e tempos históricos dos preparos né? Obrigado por compartilhar!
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