O encontro entre algo de comer e um lugar. Toda vez que eu comer de novo folhado de chocolate eu vou lembrar que o mundo pode ser surpreendente e que o vazio e silêncio dizem bastante coisa quando estamos dispostos a ouvir. Uma refeição pode gravar em nossa vida memórias sem prazo de validade, é por isso que acredito que o ato de alimentar-se ou preparar alimentos tem algo de “divã”, algo de contato com nossa “obra psíquica”. Texto sobre um piquenique, praia congelada, amor, folhado de chocolate, nozes, punch de 99 centavos e pássaros dançando. Porque o gosto de alguma coisa da refeição às vezes é o gosto da memória valiosa da própria vida.
Em meados de fevereiro Toronto é gelo puro. Existem alguns parques mais próximos do centro de Toronto que mesmo no frio você encontra bastante gente (como o High Park). Já o Bluffer’s Park é mais distante do centro, o que o faz bem vazio no inverno. Fazer um piquenique gelado lá, em pleno rigoroso inverno canadense, foi uma das experiências mais sensacionais que já tive – porque piquenique não tem só a ver com dia de sol e verde intenso, quem foi que criou esse limite?
O Bluffer’s Park é uma mistura de parque, marina, praia, e um monte de penhascos rochosos (que são chamados de Bluffers). No inverno ele soa como um pedaço esquecido de alguma coisa. Acho que por isso que foi tão significativo. Lugares que parecem pedaços esquecidos tendem a nos fazer lembrar de pedaços nossos fundamentais, mais ou menos esquecidos. Todo mundo que vai para Toronto no inverno devia fazer um piquenique lá. Todo mundo devia lembrar dos seus pedaços fundamentais quase esquecidos.
Esse post é mais sobre amor, porque eu também escrevo para registrar mais intensamente as minhas emoções e memórias – enquanto digito agora o gosto do piquenique e o vento gelado daquele dia retornam de algum canto de mim e ficam mais fortes. O Bluffer’s Park naquele dia foi amor, também porque eu estava ao lado do grande amor da minha vida, vivendo coisas que sonhamos durante anos, juntos.
O Bluffer’s Park fica em Scarborough, distrito da Grande Toronto. Não paga nada para acessar. Não é um local muito famoso. Fica mais cheio no verão (há churrasqueiras públicas e muitas famílias as usam em dias mais quentes). É um lugar lindíssimo de se visitar também no outono canadense. O melhor jeito de chegar lá é de carro, porém você pode ir de TTC (como é chamado o transporte público de Toronto). Para essa opção você deve pegar o metro até chegar na Kennedy Station (Linha 2 Verde), e dentro dessa estação pegar o ônibus 12A (Linha 12A em direção a West – 12A Kingston Rd Towards Victoria Park Station Via Brimley and Variety Village). Você deve descer no cruzamento da Kingston Rd com a Brimley Rd, e de lá ir andando até o parque (é uma caminhada boa, mas vale a pena!). O Google maps faz certinho esse trajeto por transporte público.
Acho muito interessante, durante as viagens, que você procure por lugares não tão populares, costumam ter jóias escondidas por aí. Toronto é muito mais do que a CN Tower ou que a Dundas Square. Qual piquenique você jamais esqueceu? E que gosto ele tem?